NÃO FOI BOA MÃE.
 
Não sei se tive o azar de não ter tido uma boa mãe. Será que nasci com esta sina? Muito cedo, com mais ou menos quatro anos, ouvia minha mãe me xingar. Como colocou o escritor catarinense Guido Wilmar Sassi em seu livro Piá, Sua boca não conhecia palavras ternas. Só sabia xingar, dizer nomes feios. Ela, filha de italianos, usava uma palavra horrorosa quando eu, uma criança, fazia qualquer coisa que não lhe agradasse. Se eu derrubasse algo sobre a toalha da mesa ao fazer uma refeição, ela gritava:- Sua maledeta, não presta atenção? - Eu não sabia o significado da palavra, mas pela cara e gritos dela, eu sentia que algo estava errado e era assustador para mim. Muitas vezes, para variar, ela usava as palavras amaldiçoada e lazarenta. Dizia que, por minha causa, tinha que aguentar o verme do meu pai. Quando eu já estava cursando o primário, tive a coragem de perguntar à minha professora o significado daquelas palavras. A professora ficou espantada e me disse que não eram palavras boas, corretas, de uma mãe dizer a sua filha.  Daí em diante eu olhava para minha mãe com mais temor. A situação piorou quando mais três filhos ela teve. Passei anos sob a influência dela. Continuei a estudar e comecei a ajudar meu pai em seu escritório de contabilidade. Aí passei a ter contato direto com ele e fui percebendo quão maravilhoso ele era. Ele apreciava boa leitura, escrevia poesias, tocava gaita, gostava de jazz e músicas clássicas. Sempre foi muito trabalhador. Meu pai me admirava como filha e boa aluna que sempre fui. Minha mãe nunca tratou meu pai com carinho, apesar disso ele sempre amou minha mãe. Meu pai se casou por amor. Ela se casou com ele apenas para sair de uma pequena cidade do interior e vir morar na capital deste São Paulo. Ao nascer, eu creio que me tornei um estorvo para ela. Por minha causa ela disse que não tinha coragem de se separar dele. Um dia, já adulta, eu lhe falei:  Mãe, eu não me lembro de um beijo que a senhora tenha me dado. Sabem o que ela me respondeu? Você nunca me deu o rosto para beijar!

Meu pai faleceu cedo, creio que de desgosto, em 1965, e no dia de meu aniversário. Ela, após infernizar a minha vida e de mais três irmãos, se foi em 2006. Meus irmãos acham que a nossa mãe sempre foi ótima cozinheira e boa dona de casa. Isto nós não podemos negar. Amor de mãe nós nunca tivemos. Ainda bem que esta semana que precede o Dia das Mães esta se findando.
Deyse Felix
Enviado por Deyse Felix em 12/05/2012
Reeditado em 28/11/2016
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