Mãezona
                          (Dia das mães)

     Minha mãe nunca me bateu!
     E nem podia fazê-lo. Fui uma criança sapeca, mas não o bastante para entrar, inapelavelmente, no chinelo ou na palmatória, castigos muito usados no meu tempo de menino.
      Quando os filhos não andavam "nos eixos", lhes eram aplicadas impiedosas palmadas no bumbum. Já o uso da palmatória, dependia do grau da traquinagem praticada. 
     O número de "bolos" ia de dois a quatro. Que eu saiba, nunca, além disso. Mas "doía paca", me diziam os que passavam por essa dura experiência.

      Me lembro que meu pai, mais severo com a filharada, dificilmente substituía o chinelo ( eu disse o chinelo) por um castigo manos cruel. Mas batia devagar.
     À noite, o velho ia de rede em rede, e nos beijava; como a pedir perdão pelo corretivo aplicado naquele dia. Hoje, descendo a ladeira, recordo-o com saudade; compreendendo e perdoando o pai dos anos 1940.

      Minha mãe, mulher, bonita, decidida e forte, era moderada nos seus julgamentos e criteriosa nas suas avaliações. Mas não mexessem com suas crias; virava uma cascavel.
     Não era de passar a mão por sobre minha cabeça quando eu fazia uma travessura qualquer. Corrigia minha "danação" , consciente de sua missão de educadora, a mais competente entre todas que me acompanharam, nos primeiros dias de minha vida.
     Foi, sim, "mãe e mestra". Esteve ao meu lado até seu último suspiro. Viveu noventa e seis anos! Morreu no dia 21 de fevereiro de 2003, lentamente... se despedindo....
     
      Morreu? Quem disse? As mães não desaparecem para sempre. Ressurgem, todas as vezes que a gente diz: minha mãe era ótima; ela me ensinou isso e aquilo... Minha mãe era uma santa...
     Santa? Isso mesmo: todas as mães são canonizadas em vida; só elas gozam desse privilégio.

               
     Mãezona foi dona Maria Luiza, nos meus tempos de menino, e depois... Convincente, entendia-lhe o olhar. 
     "Olhos de mãe enxergam muito: divisam, no rosto dos filhos, os quase imperceptíveis sinais de tristeza, de frustração. Da safadeza, também", escreveu o saudoso cronista Moacyr Scliar.

     Criei asas, e ela continuou me acompanhando.
     Exemplo: aguardava-me ansiosa quando, nas minhas "andanças noturnas" , eu esquecia de obedecer o relógio... e chegava em casa "fora de hora". 
     Como  no samba do Adoniran Barbosa, minha mãe não dormia enquanto eu não chegava!
     "A mãe da gente", disse Lia Luft, na revista Veja, "é aquela que só dorme quando sabe que a gente está em casa, e chegou bem."

     Mãezona, sim, senhor. Ela me ensinou, com simplicidade, a caminhar pelas estradas do mundo... Por isso, todos os dias são seus...
     
     


    
                   

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/05/2012
Reeditado em 23/05/2013
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