Futebol Argentino

Na América do Sul, o futebol argentino sempre foi o mais evoluído. Por volta de 1880, grandes companhias inglesas vieram para fixar-se na Argentina. As ferrovias também começaram na Argentina com os ingleses, e os seus funcionários, na maioria ingleses, já conheciam o futebol. Desta forma, já em 1891, foi realizado um campeonato oficial com 6 times na Argentina.

O intercambio com o Brasil começou oficialmente em 1914 na Argentina com a Copa Roca. E o Brasil venceu por 1 x 0, gol de Rubens Salles. O Brasil formou com Marcos Carneiro de Mendonça, Píndaro e Neri; Sílvio Lagreca, Rubens Salles e Pernambuco; Millon, Osvaldo Gomes, Friedenreich, Bartô e Arnaldo.

Em 1916 o Brasil disputou o 1º Campeonato Sul-Americano tendo empatado por 1 x 1 com o Chile, por 1 x 1 contra a Argentina e perdido do Uruguai por 2 x 1. Todas as partidas disputadas no Estádio do Gymnasia y Esgrima, em Buenos Aires.

Em 1919 o Sul-Americano aconteceu no Brasil e vencemos o Chile por 6 x 0, a Argentina por 3 x 1, e jogamos duas vezes contra os uruguaios, na primeira partida 2 x 2 e na final vencemos por 2 x 1. O Brasil formou com Marcos Carneiro de Mendonça, Píndaro e Bianco; Sérgio, Amilcar e Fortes; Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo.

E através dos anos Brasil e Argentina fizeram grandes jogos até com goleadas de ambos os lados. Sem nunca deixarem de apresentar jogos de muita emoção e classe. E ao longo da história do futebol, muitos jogadores brasileiros foram atuar na Argentina. Mas a quantidade de jogadores argentinos que vieram atuar nos clubes brasileiros, dar sua contribuição de dedicação e classe foi muito maior.

E nas décadas de 1930, 1940 e 1950, todo bom time brasileiro tinha em suas fileiras, grandes jogadores argentinos e também uruguaios e paraguaios.

Brasileiros que fizeram nome na Argentina foram em 1934 o trio final do Boca Juniors, campeão argentino, formado por Yustrich, Moisés e Bibi, todos brasileiros. Em 1935, outra vez campeão, o Boca Juniors contava com Domingos da Guia. Também jogaram na Argentina, antes de 1940, os goleiros Jurandir e Nascimento, os médios Valdemar de Brito e Petronilho de Brito.

Uma curiosidade: Gandula e Emeal, ala esquerda do Boca Juniors em 1940, vieram para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Conta a lenda que os pegadores de bola existentes nos estádios brasileiros são chamados de gandula em referencia ao meia argentino que fazia muita cera e segurava muito a bola, quando o Vasco precisava segurar um resultado favorável.

Na década de 1940 o futebol brasileiro teve muitos craques argentinos e também uruguaios e paraguaios defendendo nossas melhores equipes como Renganeschi, Colleta, Rafanelli, Malazzo, Santa Maria, Gonzáles. Sastre, Baristein, Novelli, Sobral, Juan Carlos, Valido, Volante, Gran Bell, Figliola, Magri, Espinelli, Rongo, Capuano, Della Torre, Munti, Colocero, Garro, Echevarrieta, Viladonica, Luis Villa, Dacunto, Montanholi, Rubem Bravo, Sílvio Parodi, Garcia, Bria, Benitez, Berascochea.

Na década de 1960 tivemos mais jogadores brasileiros jogando na Argentina. No Boca Juniors, em 1962 campeão argentino, jogavam Orlando, Édson, Paulo Valentim, Almir e Maurinho.

Podemos relembrar alguns grandes times argentinos:

C. A. River Plate, de 1942 – Barrios, Sirne e Vaghi; Iácono, Rodolfi e Ramos; Deambrozi, José Manuel Moreno, Pederneira, Gallo e Lostau. O mesmo River Plate, em 1945 formava com Carrizo, Vaghi e Ferreira; Iácono, Nestor Rossi e Ramos; Munhoz, Moreno, Pederneira, Labruna e Lostau.

Em 1950 o Racing Club tinha um time arrasador: Rodrigues, Higino Garcia, e Garcia Perez; Fonda, Rastelli e Gutierrez; Boie, Salvini, Rubem Bravo, Simes e Sued.

O Boca Juniors, na década de 1940 tinha também um grande esquadrão: Vaca, Marante e Dezorzi; Soza, Bendazi e Pescia; Boie, Corcuera, Sarlanga, Gonzáles e Pin.

Escrevemos algo sobre o futebol argentino, mas o melhor do futebol portenho está ai. Os próprios argentinos ainda não chegaram a conclusão sobre o melhor jogador de futebol argentino de todos os tempos: se foi Guilhermo Stábille, dos anos 30, Adolfo Pederneira de 1940 a 1950 ou Alfredo Di Stefano, dos anos 50 e 60. E depois Maradona até outro dia. Nos dias atuais surgiu outro grande craque: Lionel Messi. E a dúvida continua.

Falando em craques, me recordo de ler as crônicas do Geraldo Bretas, há muitos anos atrás. Ele dizia que os cronistas argentinos afirmavam que Zizinho era o melhor jogador do Brasil e ainda escreviam que Zezé Procópio e Afonsinho eram os jogadores que todos os argentinos admiravam por serem bons jogadores e não terem medo de botinadas.

Tinham picardia portenha, ou seja, eram experientes no futebol.

Mas entre as duas Seleções existiram goleadas como na Copa Roca de 1940, no estádio Viejo Gasómetro, em Buenos Aires; Argentina 5 x 1 Brasil. Juiz Bartolomé Macias, argentino.

A Argentina jogou com Gualco, Salomon e Valussi; Arraguez, Leguizamon e Suarez; Peucelle, Sastre, Cassam, Massantonio e Garcia. O Brasil atuou com Jurandir, Norival e Florindo; Zezé Procópio, Zarzur e Argemiro; Lopes, Romeu Pelicciari, Leônidas, Jair da Rosa Pinto e Carreiro. Essa partida aconteceu em 17 de março de 1940.

Em 20 de dezembro de 1945 o Brasil devolveu essa goleada no estádio de São Januário, pela Copa Roca daquele ano, com arbitragem de Mario Vianna: Brasil 6 x 2 Argentina. O Brasil formou com Ari, Domingos e Norival; Zezé Procópio, Rui Campos e Jaime; Eduardo Lima, Zizinho, Leônidas (depois Heleno), Ademir e Chico. A Argentina com Vaca, Marante e Sobrero; Fonda, Peruca e Batagliero; Boié, Pedernera, Pontoni, Martino (depois Labruna) e Suede.

Naquele tempo, pela Copa Roca, no Brasil apitava sempre Mario Vianna e na Argentina apitava Bartolomé Macias, e não havia qualquer queixa das arbitragens, pelas Seleções.

Enfim, foi um tempo em que o futebol era bem jogado, sempre com amor à camisa. Nenhum jogador era chamado de rei, Imperador, Santo, Joia, Soberano, Papa e outros nomes. E olhem que grandes jogadores não faltavam. No Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Paraguai apenas Leônidas da Silva foi garoto propaganda de um chocolate da Lacta, o Diamante Negro. Mas talvez ele nada tenha ganho com isso. De tudo aquilo, ficou apenas a saudade daqueles que vivenciaram essa época.

Laércio
Enviado por Laércio em 30/04/2012
Código do texto: T3641564