Conversa de botequim

Um dia de calor intenso, fui ao shopping Iguatemi, situado no Lago Norte, onde resido. Na praça de alimentação, encontrei-me com Genésio – sempre ele – bebericando seu chopinho gelado e mordiscando petiscos da culinária japonesa.

Esse amigo não perde a oportunidade de comparecer àquele estabelecimento. Ali, passa horas com o copo na mão, levando-o à boca em curto espaço de tempo, esquecido dos riscos provocados pela bebida. Temo por sua saúde. São muitos os exemplos de pessoas acometidas de cirrose hepática, decorrente do abuso do álcool.

Quando Genésio não está na praça de alimentação do Iguatemi ou no bar do Zezão, talvez seja encontrado no trabalho, em expediente entrecortado de ausências, permitidas pelo chefe. Tais faltas ao serviço são comuns no âmbito das repartições governamentais.

Devo ser o melhor interlocutor do Genésio. Apesar de manter longas conversas com Sebastião e Ricardo, dois outros convivas de elevada consideração, ouço mais Genésio. Talvez, por ser bom contador de estórias, entendido de política e conhecedor das mazelas palacianas.

Embora abstêmio, suporto os excessos etílicos desse amigo, principalmente quando enaltece os feitos de seu fraco time de futebol, o Botafogo carioca. Divirto-me, todavia, ao ouvi-lo debochar do Flamengo, esquadrão de cores desbotadas. Por esse clubezinho temos declarada ojeriza.

Conversa vai, conversa vem, depois de comentar os recentes escândalos de parlamentares, sócios de Carlinhos Cachoeira, Genésio falou o seguinte:

– Agora, vou contar-te o que me particularizou um vizinho, de setenta anos. Essa pessoa dizia ter sido um bom garanhão. Hoje, anda triste, com baixa autoestima, decorrente do fracasso sexual em sua alcova, outrora palco de grandes batalhas.

– Mas, por quê? Aos setenta anos ainda podemos dar no “couro”, sem maiores problemas, graças ao Viagra.

– Tenho dito isso a ele. O homem até ficou animado com a possibilidade de tirar da letargia o órgão sexual adormecido há tempo. Depois de alguns meses, encontrei-o mais sorumbático ainda. Talvez, o Viagra não tenha sortido o efeito desejado. Na ocaisão, acrescentou: "Genésio, com relação a sexo, estou parecido com a Coca-Cola"...

Genésio continuou sua longa história:

– Alegrei-me com a comparação. Gosto de ver os amigos felizes. Então, disse-lhe: Igualando-se à Coca-Cola, você deve agradar bastante a parceira. Essa bebida desfruta de grande conceito. Ele, então, complementou: "Não é isso, Genésio. Até os quarenta anos, minha atuação com o belo sexo era normal; por volta dos sessenta, tornou-se ligth; agora, é zero".

– Boa comparação, amigo. Com essa do seu vizinho, lembrei-me de um vaqueiro do meu falecido avô. Quinco era analfabeto. Casou-se e do enlace matrimonial nasceram cinco filhos. O tempo foi implacável com ele, negando-lhe o prazer do sexo. Instruído por meu avô, procurou um especialista. O médico receitou-lhe um remédio que deveria ser tomado por dez dias seguidos. Quinco disse ao doutor só saber contar até nove, nos dedos das mãos, uma delas mutilada. Faltava-lhe uma digital.

Genésio estava interessado na solução do problema. Estaria necessitado de curar alguma disfunção erétil, negada em conversas com amigos? – pensei com meus botões.

– Pois bem, Genésio. O médico, então, sugeriu que Quinco comprasse um caderno de apenas dez folhas. Todo dia, ao tomar um comprimido, arrancaria uma. Assim, resolveria a deficiência aritmética e o seu problema sexual.

Meu amigo parecia ansioso pelo final da narrativa.

– Termina logo com isso! – suplicou Genésio, impaciente.

– Na loja, Quinco perguntou a vendedora se ela tinha um caderninho com apenas dez folhas. A moça indagou-lhe: "É brochura, senhor?". Vermelho de raiva, o vaqueiro saiu rumo ao consultório médico. Ao chegar, sacou de uma peixeira de doze polegadas e, bufando de raiva, indagou da secretária: "Onde está aquele doutozinho miserave? Precisava ele telefonar pra moça da papelaria, dizendo que estou broxa?".

– O médico escapou da pior, pois já havia deixado o consultório. Fora assistir um enfermo, operado da próstata, insatisfeito por ter perdido a ereção, depois da malfadada cirurgia – conclui.