Dama de vidro

Ouviram do Ipiranga , pois de minha boca só conseguiram perceber o discreto charme , voraz e altivo , que mora em meus lábios. Meus olhos cantam com a sintonia de meu silêncio não anunciado , e meus ouvidos clamam por mil palavras , ao invés de somente um ´´bom dia moça!``. Ando pelas ruas conturbada e intolerante , e se esbarro em um ombro qualquer , não posso nem ao menos pedir desculpas sinceras. Os conflitos que me cercam , não são simples como esse , pois afinal , estou em um constante e longínquo campo de batalhas com meu interior , e com o cale-se que impuseram sobre mim. Minha áurea angelical foi trocada por uma coroa de espinhos , que inflama minha mente , me impedindo de viver livre , com minha autenticidade de sempre.

Agora , vivo em uma estante ou vidraça polida , sendo vista por milhares de olhos insanos e maliciosos. Além disso , a única luz que resplandece de mim , vem das lanterninhas que colorem o cenário. Neste espetáculo , não sou a estrela , mas sim , a vítima ou alvo ilustre , que esbanja uma falsa alegria e enriquece a bilheteria. O ditador deixou claro , que esta ia ser a minha surreal realidade , e providenciou para que nem meus os meus passos ficassem na areia da praia. Usou seu poder para acabar de vez com o que era forte , e tornava-o muito fraco. De mim foram tiradas sílabas , algazarras e semblantes , tendo virado eu , nada mais que uma estrutura de porcelana ou vidro , que vai lutar , com ou sem o tropicalismo , para poder um dia voltar a dizer que estou viva!

JBorsua
Enviado por JBorsua em 17/04/2012
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