O TRÁGICO

O TRÁGICO

Existem pessoas que adoram serem os coitadinhos da estória é só encontrarem uma vitima para enumerarem suas tragédias cotidianas.

Sou uma dessas vitimas, quanto mais fujo dos sofredores mais eles aparecem. As vezes vem em dose dupla o marido e a respectiva para sublinhar a narrativa dramática.

“Frases do tipo; “eu não tenho amigos”, ‘ninguém vai à minha casa” chega dar uma dor no peito de tão lamuriosa. Tipos que preferem a comiseração ao elogio . Espirito pobre sem luz, acho isso.

Tenho uma dessas ao lado da minha casa (amiga sinto muito), quando abre o portão de casa. Preparo o balde para as lágrimas e um lençol para torcer as lamúrias. Parece que meu silêncio atrai as frases sofridas dela, na ânsia de me convencer, fica cavando do baú uma desgraça detalhada.

Mas vou ser injusta com meu sexo se não falar dos homens. Quando resolvem atacar de pobrezinhos... Uns até querem que te atires no poço junto com eles. Insistem até tu deixares escapar uma desgracinha insignificante. Pronto já temos o que conversar.

Se tu quiseres fugir do assunto ele emenda rápido, “mas tu também não anda bem das pernas (dito popular). Se a memoria falhar propositalmente o desagradável aviva, lembrando até o dia que tu contou a ele. Com requintes de detalhes. Tchê, como é que tu te livras dessa?! E ainda ri do teu esquecimento afinal como esquecer por exemplo o pé que levaste e o quanto chorastes. É mole ?

E tu querendo falar de trivialidades dar umas boas risadas, afinal se não soubermos rir das desventuras é melhor morrer. Pois lá em cima dizem que é o Paraiso.

Aparecem de vez enquanto os que adoram pegar carona na desgraça do alheio te recebem com um sorriso. Logo as feições tomam uma forma sombria à voz fica chorosa. Toda uma interpretação digna de um QUIQUITO (Oscar aqui do Sul) , mostrando que a coisa foi feia. E quando tu dizes “com o fulano foi pior”, pronto. Dá uma injeção de ânimos na pessoa, ansiosa espera com os olhos brilhando que tu sejas minucioso. E depois diz pesaroso “é mesmo”, - suspiros-... "coitado “, - mais dois ou três suspiros de cortar o coração. E arrematam com um “ é bem isso mesmo.”

E não pensem que esse teatro melodramático é por conta do que contastes, com certeza esta lembrando de um bem pior pra te contar.

Aprendi uma coisa, os chorões por excelência nunca são as vitimas e sim os culpados pelo que estão vivenciando.

Também há pessoas que pressentem uma desgraça e chegam antes mesmo do ocorrido. Trazendo-nos noticias fresquinhas, pelo menos cinco vivos eles matam, querendo ver o pavor estampado em nossos rostos. Detalham a cena macabra com requintes de sem noção.

Mas como tudo em nossa vida tem dois lados, nada mais prazeroso que o tragicômico. Este é impagável.

Encontrei por acaso um amigo com o dedo enfaixado levantado para cima querendo chamar atenção. Perguntei só para constar, pois ele queria isso mesmo. Bastou.

Deu uma fungada dessas que parece um ronco, torcendo o nariz à boca, revirando os olhos, e contou-me do acidente gravíssimo de trabalho.

“Atorei o dedo”!“ disse com uma careta engraçada de dor,” Levei cento e doze pontos...” – deu vontade de rir, mais segurei, “ O doutor disse que se demorasse mais um pouco perderia metade do braço”. Gaúcho quando ri a cidade toda escuta. Pois o mundo todo ouviu minha risada, o guasca se ofendeu querendo que lesse a receita com quarenta tipos de antibiótico. Ainda garantiu, palavras do médico se não tomasse daria uma gangrena no dedo ( enfaixado pela metade parecendo um corte a faca de cozinha). E cairia o dedo e o braço junto.

RÔCRÔNISTA
Enviado por RÔCRÔNISTA em 15/04/2012
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