O CURSO SUPERIOR

Por notícias do jornal e da TV, tomamos conhecimento, com certa frequência, de casos em que um infrator da lei é preso mas, por ter curso superior, vai para uma cela especial. Pode ser um político corrupto, um estelionatário, um pedófilo, um assaltante ou um estrangulador de mulheres. Tem curso superior? Cela especial, separado dos detentos comuns.

Não tenho nada contra essa lei nem tenho a pretensão que se mude qualquer coisa. Tenho curso superior mas considero remotíssima a possibilidade de um dia eu vir a cometer qualquer das infrações que citei aí acima. No entanto essa questão vem há algum tempo martelando esta cabeça que teima em resolver problemas. É que, como as informações nos são apresentadas, parece que a expressão "curso superior" está exclusivamente ligada a "cela especial".

Então eu penso: mas haverá algum outro privilégio para quem possui o diploma de bacharel ou licenciatura? Até hoje não tomei conhecimento dessa regalia. Será que as coisas me seriam mais fáceis se eu quisesse constituir e regularizar uma micro-empresa? Ou para pedir um empréstimo bancário? Poderia conseguir um cargo público sem concurso? Teria preferência para ser contratado como professor, em detrimento de outros que nem têm curso superior? O curso superior faz diferença por ocasião da aposentadoria?

Acredito que para muitos o curso superior facilite o acesso a um bom emprego. Dentro de uma grande empresa, é um instrumento que ajuda a galgar degraus e assumir liderança. Mas nem todos conseguem explorar o poder de seu diploma. A cidade pode ser pequena, sem grandes possibilidades. Ou o mercado saturado. Ou o interesse da pessoa acaba se canalizando para outras atividades, para a informalidade.

Como foi o meu caso. Depois de muito procurar emprego e não conseguir nada de acordo com meus conhecimentos, acabei me desviando para outros interesses, como criação de abelhas, biscates, serviços de pedreiro e cultivos de hortaliças. Pelo menos, o fato de eu ter estudado muito me deu bastante inteligência para fazer tudo bem feito, de modo racional, sem menosprezar o papel do dinheiro que entra e sai, com prudência na hora de usá-lo. Vivendo assim, trabalhando sempre e vendo as coisas darem certo, não posso considerar-me insatisfeito com o que sou e o que faço. Preso aos meus princípios, sou um privilegiado.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 13/04/2012
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