PÁSCOA

Apesar de eu ter morado por muitos anos no Rio de Janeiro, não me lembro, ou jamais percebi, como é a festa da Páscoa naquela grande cidade. O que sei é que aqui em minha cidade, no interior do Rio Grande do Sul, a Páscoa sempre teve algum deslumbramento, um quê de magia, principalmente entre as crianças. Hoje mesmo, quinta-feira, vi crianças voltando das aulas trazendo ninhos de Páscoa recebidos de presente na escola.

Os ninhos são cestinhas coloridas contendo ovos de chocolate, balas, cascas de ovos de galinha recheadas de amendoim torrado e cozido com açúcar, além da simpática figura do coelhinho que encanta as crianças.

Por tradição, os pais ou responsáveis pelas crianças confeccionam os ninhos que, na véspera da Páscoa, são enchidos com os chocolates e doces apropriados para a ocasião. Na manhã de domingo os ninhos são escondidos em algum lugar fora da casa. As crianças, ao acordar, devem procurá-los acreditando que foram deixados de presente pelo coelho da Páscoa.

Pelo menos era assim no meu tempo de menino. Mas hoje em dia, como as coisas vão, as crianças já não são tão ingênuas a ponto de acreditar em coelho que traz ovos de chocolate. Só fingem que acreditam, um fingir que traz vantagem a elas mesmas. Na verdade as crianças ficaram mais espertas, provavelmente devido ao progresso da tecnologia e da informação.

Na Páscoa do ano passado, meu vizinho contou-me que no domingo levantou bem cedo e ficou pensando onde iria esconder os ninhos que seriam de suas duas meninas, uma de seis e outra de oito anos. A mais nova também já estava de pé, provavelmente sabendo que aquele domingo seria um dia especial. O pai, querendo ir pegar os ninhos, trancados no armário, e escondê-los lá por fora da casa sem que a menina visse, disfarçou: Filha, volte para a cama, que eu vou ver se a padaria já está aberta, para comprar o pão e leite. E a menina respondeu: Mas, pai, ainda está cedo para a padaria abrir. Aproveite agora para esconder os ninhos, e depois você vai na padaria.