Eu posso mudar o mundo? (EC)
Você pensa que você pode mudar o mundo. Pensa que todas as vontades estão voltadas a você quando coloca seus fones no ouvido e se dissipa da realidade do outro lado. Enaltecido com todas as qualidades que enxerga dentro de si, percebe fatos, nota as voltas que dá em si mesmo e diz: Eu posso ser o Eu que está aqui agora? Quem saberia responder? Involuntariamente crescemos como cresce a imensidão dos Céus no passar dos anos e toda a via se torna conspícua, admirável ou não, mas requer nossa atenção. Você pensa que pode mudar o mundo enquanto o universo muda você e seus pés estão soltos pela gravidade do sistema, sem saber, ao certo, qual dos três caminhos deverá ser seguido: O fácil, o difícil ou o certo. Tenho que rabiscar no meu subconsciente algumas linhas de palavras tênues ainda que o sono cochiche: vá dormir! Quantas noites desde aquela noite eu tenho dormido e deixado minhas próprias figuras de pensamento fugir entre um enredo e outro? Todo sonho morre quando o sono chega para acabar com ele. E quando abrimos os olhos pela manhã – não ao levantar da cama, mas sim, ao chegar ao trabalho – vemos o absurdo negro véu que denota a fraqueza de nossa incapacidade de lembrar nosso sonho ontem e enriquecê-lo com a luz de hoje e do amanhã. Tive que dormir, e acordar embriagado na própria astúcia ou na mera alusão daquilo. Aquilo, onde não fuçamos mais já há uns três anos, se esconde pelo nosso temor e pela nossa grandeza ao ser fraco. Você diz: Eu posso mudar o mundo?
Quando ainda pequeno via, na contramão da vida, o que, de certo, fazia as coisas andarem. Quem sabe meu hoje saiba de frustrações corriqueiras que impeça alguns de dizerem: Cheguei! Basta compreender que ter um alvo é ter a vida na mão e saber a hora de chorar e de exultar de alegria. Não direi que consegui meu troféu – ainda! -, mas me basta saber que meus passos seguem as marcas que a vida vai deixando pra que saibamos qual rua pegar – aquela lá de cima – e que o endereço certo é o mais conveniente. E conveniência é a nossa porta para apertar o cinto e trabalhar. O bem mais importante, qual seria? Nós somos o mundo, fato. Há um papel essencial guardado para os que almejam ser não somente um grãozinho coitado perdido por aí. O papel de protagonista. Enternece-me derramar cada uma dessas palavras e me faz recordar que alguns – muitos – de meus dias foram como o ultimo figurante a ser lembrado, sim porque sempre me deixei a fundo de tudo e longe de meus verdadeiros anseios. Chutei aquele velho balde para onde se esvaem minhas cálidas lágrimas e deixei meus braços um pouco mais cansados nesses últimos dias. Notei que em cada linha da minha vida, representando meus dias contados até o grande dia, estava vazia e triste porque cruzavam sempre com o anoitecer sem luar e sem estrelas. Tirei de meus dias o sol, a lua, as nuvens e por um triz não perdi a essência. Você pensa que pode fazer algo e quando toma conta de si passaram-se já mais de mil dias e o brilho do universo parece diferente, algo estranho anda acontecendo com os seus olhos que já não enxergam tão bem e então se pergunta: Quem você pensa que é?Quem penso que sou?Não aquele alguém que deixou desvanecer o trilho da vida. Nas minhas viagens ao trabalho noto cada olhar vago e vida triste que se desmontam ao saber que a morte se aproxima. É a hora que chegam os ‘por quês’, por que fiz isso? Por que não fiz aquilo? Por que deixei de lado? Por que não persisti? E então você pergunta: Eu posso mudar o mundo?
Pensar me deixa insano! Tudo é tão contado que se me deixo embriagar pela lerdeza, estarei - não tão distante porque o amanhã é o amanhã, morto em minha própria ansiedade e fazendo serão.
Você pensa que pode mudar o mundo e pode. É deixar que a leveza da insistência o leve a acreditar na fé que o guia. É seu guia. Nossas debilidades são débeis e temos que, no termo da vida, nos enquadrar no vento que traceja nosso devaneio e nossa caminhada. Para isso todos foram feitos, para lembrar que o amanhã é incerto, mas nosso alvo foi explorado até que dele não tivesse mais nem um pingo de sangue a derramar, o sangue da vida. E você esbraveja: Eu posso mudar o mundo!
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Fazendo Serão
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