NOTÍCIAS DO SOL

O destaque para o assunto relacionado à tempestade solar foi notável nos principais jornais do mundo, algumas fotos muito interessantes sendo estampadas nas primeiras páginas no seu exuberante espetáculo de luzes, a internet divulgando interpretações sobre o fato.

A televisão, em todos os canais , não perdeu tempo, buscando, logicamente, a versão de estudiosos. Cientistas a postos, atrás de microfones e holofotes, na tentativa de oferecer explicações do fenômeno para o grande público leigo.

A respeito desse assunto, transcrevo uma informação básica extraído do site da UOL, em destaque em Notícias - Ciência e Saúde

“As tempestades geomagnéticas e de radiação são cada vez mais frequentes à medida que o Sol passar de seu período de atividade mínima para máxima nos próximos anos, mas as pessoas estariam protegidas pelo campo magnético da Terra.

No entanto, alguns especialistas estão preocupados porque, como a dependência da tecnologia de navegação GPS é maior do que era durante o último máximo de atividade solar, poderia haver mais transtornos na vida moderna.

A perturbação começou na noite de domingo (4 de março) em uma região ativa do Sol denominada 1429, com uma grande labareda solar associada a uma rajada de vento solar e plasma, conhecida como ejeção coronal de massa, que se precipitou para a Terra a 6,4 milhões de quilômetros por hora”.

Seria engraçado para nós, amantes da ciência e do progresso, imaginar como ficaria uma pessoa dos tempos medievais diante desse repentino e magnífico jogo de cores. Aquele homem sairia anunciando aos quatro ventos, com intenso temor, o fim do mundo, confessaria os seus pecados aos gritos e aos prantos defronte a igreja no seu feudo. E só depois que o fenômeno acabasse – a aurora boreal – aquele show contagiante de luzes coloridas e brilhantes, que ocorre em função do contato dos ventos solares com o campo magnético da Terra - ele perceberia que, afinal, o mundo não acabara, mas alguma coisa havia acontecido. Seria coisa do demo ou da proximidade do juízo final. O fim dos tempos estaria próximo, não haveria dúvida.

Mas somos filhos do século XVIII, do Iluminismo, da valorização da razão, do “penso, logo existo” cartesiano, de tal forma que a ciência passou a partir de então a rimar com conhecimento verdadeiro e assumimos esses paradigmas sem grandes problemas ao longo da contemporaneidade. .

Mas cá com os meus botões, eu entendo esse fato – a tempestade solar - de outra maneira, bem mais simples. Não seria necessário o entendimento da física, astronomia ou qualquer outro conhecimento científico mais elaborado.

É que uma pessoa especialíssima desse planeta, de raríssima beleza ética, resolveu descansar os ossos no final do ano passado. Essa pessoa era dona da mais incrível disponibilidade emocional para com os seus iguais. Não sabia o que era preguiça, ódio, rancor ou cobiça. Ao contrário, sempre tinha um enorme repertório das boas idéias, de histórias que eu nunca soube onde ela havia buscado, dona de discursos notáveis para a defesa pessoal através da desconversa sobre a inveja ou maus princípios. Sabia partilhar o conhecimento adquirido através das leituras de forma exemplar. Uma vez ela disse que conhecia o mundo através dos livros, pois havia passado poucos anos na escola em função da escassez de recursos. E como sabia das coisas!

Sabia partilhar a comida com tamanha alegria e generosidade que todas as suas receitas se tornavam tão espetaculares e especiais quanto as preparadas pelos melhores chefs das cozinhas internacionais.

Comida feita em panelas velhas, surradas. O bolo peteleco ou de laranja também vinham das formas já um tanto disformes das tantas vezes que preparou, amorosamente, verdadeiros banquetes celestiais para a família, as comadres, compadres, afilhados e agregados.

E gostava de presentear, de participar da vida, dos estudos dos filhos e afilhados, participar das festas, dos casamentos. Os seus olhos se iluminavam insistentemente diante das novas descobertas , da doce leitura de um Érico Veríssimo, se indignava profunda e verdadeiramente diante das injustiças, sobretudo contra crianças e se regozijava diante do sucesso dos seus diletos. E estava muito presente nos momentos das perdas, fracassos e desilusões. Amava o país como poucos. Se arrepiava quando da execução do hino nacional. Gostava de futebol e os seus comentários eram engraçados e oportunos. Nunca se soube se ela desgostava de alguém. Chamava todos de filho ou filha, com atenção e sincero interesse. Conversava com o motorista de ônibus. Com o cobrador também, com os passageiros... Mas também conversava com a dona Maria, a japonesa da loja de bijuterias da praça da Árvore, com a senhora do pastel da feira, com o taxista , com a moça do correio e o carteiro a chamava pelo nome. Dava conselhos e era ouvida.

Então a tia Norma resolveu descansar os ossos. Ela deve ter ido passear pelo espaço e aproveitar para conhecer outros astros e estrelas interessada e sossegadamente. Das nuvens... bem, das nuvens deve ter concluído que pareciam algodão doce e se arregalou (como ela mesma dizia) da guloseima. Deve ter ficado sentadinha ali, olhando prá baixo, balançando as perninhas, curtindo a paisagem e achando tudo esplendoroso. “É gostoso ficar aqui, filho. Olha que lindo lá embaixo!”, deve ter dito, após uma sonora gargalhada, a um anjo que, assobiando, também contemplava.

E foi pulando, volitando, rodopiando faceiramente como faria uma criança em dezembro depois de um ano duro nos bancos da escola, porque na escola chamada vida a tia Norma enfrentou também muitos infortúnios, mas dizia: “deixa prá lá, filha. Tá ruim mas tá bom” e não dava vez à tristeza. Só mesmo nos últimos tempos. A tia Norma tinha pós-doutorado em sabedoria, felicidade e generosidade.

E continuou pulando pelas estrelas, como quem brinca de amarelinha, lembrando de uma infância distante e muito difícil, sem bonecas e sem mágoas. Deve ter se deslumbrado com a ausência do peso do corpo, passeado como uma criança no momento das felizes descobertas por todos os planetas. Se encontrou com algum marciano, com certeza perguntou; ”mas tu não és verde, filho?” E caiu na gargalhada. “É, filho, lá na terra dizem que vocês são verdes. Por que, hein??” ou “tu não tens aquelas anteninhas, filha?” E depois um “Ciao, filha, vou continuar passeando por aí, ciao”.

E foi voando lento, acho que até cantando o hino do Corinthians, porque ela não decorou o do Palmeiras... “ai, estrela, como és linda... como tu brilhas, hein, filha!”

E ela ficou – desde o 22 de dezembro, quando descansou os ossos, até o início de março passeando, brincando, descobrindo, se encantando, pulando até que... bem, a Norminha chegou ao sol, a estrela central de todo o sistema solar.

E o sol ficou tão encantado com tamanha luminosidade, bondade e sabedoria que não se aguentou. Chegou até , quando ainda sozinho, sentir-se frio, irritado, nem tão lindo assim, sem graça e sem a capacidade de entrar nas almas, bronzear os corpos. O sol, acolhendo a Norminha, sentiu-se completo como nunca, cheio, na sua mais total exuberância. Nunca havia se sentido assim: esculpido pacientemente pela mão de Deus, na sua perfeição absoluta, como o oleiro que amassa um bom naco de argila, procurando perfeição. O sol, explodindo de felicidade e de inteireza, resolveu mostrar suas faces coloridas para todos os lados. Soprou energia vital pelo mundo depois de encher completamente os seus pulmões, e soprava com toda a força das suas bochechas imensas as mais vibrantes cores pelo mundo inteiro. De repente, com silencioso alarde, ele se revelou completo, transmitindo a sua luminosidade que deve ser perene, fecunda, visceral no coração dos homens e mulheres e nos seres de todos os outros planetas.

A Norminha chegou! Motivo exclusivo de totalidade solar!

O cientista russo e pioneiro na cosmonáutica Konstantin E. Tsiolkovsky, morto em 1935, já pensava na tia Norma quando afirmou:

Os homens não permanecerão na Terra para sempre, mas em sua busca para a luz e espaço, penetrará primeiro timidamente além da atmosfera, e mais tarde conquistará para si todo o espaço perto do Sol.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 13/03/2012
Reeditado em 15/03/2012
Código do texto: T3551546