Igreja Matriz Santo Antônio em Tiradentes

 

TIRADENTES
PEQUENA JÓIA COLONIAL DE MINAS GERAIS

 
Minas Gerais deve o seu nome às minas de ouro que foram descobertas na região pelos Bandeirantes, homens que penetravam os territórios inexplorados do interior do Brasil em meados do século XVII.

Entre seus vales e montanhas, encontram-se cidades históricas que foram palco de importantes acontecimentos na época do Brasil Colonial. Terras de gente cordial e hospitaleira com um jeitinho (mineiro) de ser e de falar impossível de ser traduzido. Terras que viram nascer grandes homens como o herói da Inconfidência Mineira - Tiradentes, Aleijadinho, Santos Dumont, Pelé, Itamar Franco, Tancredo Neves, Milton Nascimento, Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, entre tantos outros
.
 



Tiradentes, no sopé da Serra de São José
 
Encontrei-a, no sopé da imponente Serra de São José, a bela e simpática Tiradentes, cidade colonial que consegue aliar a beleza e riqueza de seu passado ao funcionalismo do presente.
 



Pedras revestem calçadas e ruas típicas de Tiradentes. Este tipo
de calçamento é conhecido como capistrana
. O melhor é deixar 
o carro no estacionamento e seguir a pé ou alugar uma charrete.


 
Em cada rua pude saborear pedacinhos de história emoldurados pela paisagem natural que circunda a cidade que, para mim, se tornaram ainda mais belos, quando os registrei fotograficamente. Eleger o lugar mais bonito que conheci é uma tarefa quase impossível, uma vez que em cada recanto, há lugares deslumbrantes vestidos com as cores e aromas de um passado não muito longínquo. 

 
 
Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira
Monumento  erguido  pelo  Governo  do  Estado  de  Minas Gerais em
homenagem ao tricentenário da cidade de Tiradentes, no ano de 2002
(estátua de Joaquim José da Silva Xavier)

 

Famosa pela sua importância histórica e cultural, Tiradentes foi batizada com o nome do famoso mártir da Inconfidência Mineira (movimento político que lutou pelo fim do domínio português sobre o Brasil - «Libertas quae sera tamem», Liberdade ainda que tardia) e é mais uma das pérolas nascidas durante o período em que ocorreu a maior extração de ouro de superfície no Brasil.

 
 
 

Exemplos de casarões coloniais existentes no centro histórico da cidade
 

A arquitetura da cidade preserva as belezas da arte barroca, esculpida e presente até aos dias de hoje, nos casarões e fachadas de igrejas.  Suas ruas, praças e calçadas revestidas de pedras, por onde circulavam escravos, fazendeiros e desbravadores, atualmente  acolhem cerca de sete mil moradores e inúmeros turistas.
 
Patrimônio cultural e natural brasileiro, Tiradentes conta com uma sofisticada infraestrutura turística: rotas, museus, bares e restaurantes típicos (famosos pelos pratos tradicionais, como: tutu à mineira, galinha à caipira, frango ao molho pardo, pão de queijo, e uma abundante seleção de sobremesas herdadas das vovós, passadas de geração em geração, assim como foram passados os tachos de cobre, as panelas de pedra-sabão e os potes de ferro), pousadas e hotéis coloniais. Com todas essas características, esta linda e acolhedora cidade é a anfitriã perfeita para receber visitantes dos quatro cantos do mundo.

 

 

Por toda a cidade podemos encontrar restaurantes típicos, sendo
que a grande maioria apenas abre durante os fins de semana


 
Um passeio pela cidade

Caminhar por ruelas e calçadas de pedra, conhecer a obra de Aleijadinho, admirar a herança colonial da cidade e o visual montanhoso ao redor já valem a viagem. Basta estar em Tiradentes para o passeio ser prazeroso e as recordações melhores ainda.

Ao percorrer as ruas da cidade, é difícil acreditar que ela é de verdade. As casas parecem ter sido conservadas intactas ao longo dos anos, não fossem os carros a transitar pelas ruelas estreitas, poderíamos acreditar que voltamos no tempo. A conservação do patrimônio histórico só ocorreu por causa do declínio econômico que atingiu a cidade após o final do Ciclo do Ouro. A decadência impediu que Tiradentes se modernizasse e, para sorte dos visitantes, fez com que o maravilhoso conjunto arquitetônico se mantivesse quase intacto até aos dias de hoje.


 
 

Panorâmica do Largo das Forras, a praça central da cidade.
Aqui se localizam os principais restaurantes de comida mineira,
bares  e  lojas  de  artesanato.  Charretes  podem  ser  alugadas 
e fazer o passeio pelos principais pontos turísticos.


 
Hoje Tiradentes tem no turismo um futuro promissor. Vários eventos importantes encontram nela o local perfeito, como a Mostra de Cinema e o Festival de Gastronomia e Cultura, eventos realizados anualmente que enchem a cidade de visitantes.
A cidade ainda possui um núcleo central bastante preservado e fiel aos contornos originais. Seu bem conservado centro histórico nos faz recordar  douradas épocas remotas.


 

 
A Ponte das Forras liga o Largo das Forras ao simpático Largo das Mercês,
no cento histórico de Tiradentes. A belíssima construção em pedra, datada
do século XVIII, passa sobre o ribeiro Santo Antônio, importante curso de
água da região. Ponte e Largo com o mesmo nome fazem referência à grande
quantidade de escravas alforriadas que por ali transitavam na época colonial.
 

Uma verdadeira viagem no tempo em que somos capazes  de visualizar negras escravas, de pernas grossas e panos coloridos, atravessando a Ponte das Forras ou subindo graciosamente a Rua Direita; cavalos trotando no Largo das Forras; algumas velhinhas saindo da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos; ouvir as frases libertárias dos Inconfidentes que ali se reuniram secretamente diversas vezes. Ainda é possível encontrar na cidade a entrada de vários túneis, hoje interditados, que denunciam que algo de muito secreto acontecia naqueles tempos. Estes indícios excitam a imaginação e dão um ar de mistério a esta lindíssima joia colonial.


Igreja de Nossa Senhora dos Homens Pretos,
Fica situada no lado esquerdo do Largo das Forras. Louva
São Benedito e foi construída pelos escravos em 1727


 
Também é possível viajar no tempo,  pegando o trem Maria Fumaça e percorrer os 12 km cheios de história que separam Tiradentes de São João Del Rei. Inaugurada em 1881, por D. Pedro II, a Maria Fumaça ainda funciona em bitola de 76 cm (a única no mundo). Aqui existiu uma ferrovia que chegou a ter 684 km, hoje reduzidos a 12.


 
 
Trem Maria Fumaça

 

A maior parte das atrações turísticas de Tiradentes estão concentradas no centro histórico. A cidade conta com um dos mais expressivos acervos do barroco mineiro, com seus chafarizes, sobrados, casarões, museus e a riquíssima Igreja Matriz de Santo Antônio.
 
  

 
O Chafariz de São José é uma belíssima fonte de água potável datada de
1749.  Sua fachada é em estilo barroco e guarda uma rara imagem de São
José de Botas e um brasão de armas do reino de Portugal. Tem  três  bicas
em bronze que jorram água fresca e cristalina constantemente. Cada uma
tem um significado para quem dela beber: riqueza, amor e saúde.
E, como diz a lenda: basta beber um gole desta água e novamente
você retornará à acolhedora cidade de Tiradentes.


Merecem ainda destaque o prédio da Câmara Municipal e da Prefeitura, a a Casa da Cultura, construída no século XVIII, possui um rico acervo da Marinha de Ultramar de Portugal e referente ao Brasil Colonial.

 
 

À esquerda: prédio da Câmara Municipal, abriga o Museu de Arte Sacra Presidente
Tancredo  Neves.  À direita:  munumento  em  homenagem  ao  alferes Tiradentes.
Ambos localizados na ladeira da Matriz de Santo Antônio


 
Um passeio pela rua Direita, a principal da cidade, não deixa dúvidas de que beleza é o que não falta por ali. As construções do período colonial dão um ar cinematográfico ao município. A igreja Nossa Senhora das Mercês é parada obrigatória, assim como o Museu Padre Toledo para quem quiser conhecer um pouco da história do personagem que deu nome a Tiradentes. O casarão, apontado como uma das casas mais ricas da antiga vila, pertenceu ao Padre Carlos de Toledo, e consta que nela foi realizada a primeira reunião dos Inconfidentes, em 1788.
As pinturas no teto merecem uma atenção especial e o porão, usado como prisão para os escravos, impressiona. Às vezes é difícil acreditar nas atrocidades que ocorreram na história.


 
  
 
Rua e Casa padre Toledo. Este casarão possui grande valor arquitetônico, pois é a construção em que mais se concentram pinturas de tetos em um mesmo prédio em Minas Gerais. Também possui grande valor cultural para o Brasil, pois aqui em 1788 ocorreu a primeira reunião da Inconfidência Mineira. A casa era de propriedade do Inconfidente Padre Toledo. Hoje é um museu com rico mobiliário e obras de arte.
 


Arquitetura e decoração da Igreja Matriz de Santo Antônio

Saindo do centro histórico, subindo a colina, encontramos a  Matriz de Santo Antônio, uma das mais belas construções barrocas do país (para mim a «jóia da coroa» de Tiradentes).  
 
Construída em 1710, é a segunda igreja revestida a ouro do Brasil, sendo a primeira em Salvador (BA). As obras da igreja foram paradas por falta de verba, e, para ajudar na sua conclusão, foi feito um pedido a D. João V, que enviou à Irmandade do Santíssimo Sacramento a quantia de 3.000 cruzados.


 

Todas as ruas de Tiradentes conduzem à Matriz de Santo Antônio, a mais importante igreja de Tiradentes. É uma das mais belas e ricas igrejas barrocas da região do Ciclo do Ouro.


A fachada da igreja foi modificada em 1810 por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho,  que nela fez um magnífico trabalho em estilo rococó: entre discretas rocalhas, aparece o cordeiro apocalíptico sentado sob o livro do sete selos e segurando o estandarte, simbolizando o Cristo triunfante. É preciso parar por algum tempo para poder tentar apreender essa obra-prima do barroco mineiro (também chamado de D. João V ou joanino), única em Minas Gerais.

 

Fachada principal da Igreja matriz Santo Antônio, modificada em 1810 por Aleijadinho
 

Infelizmente não pude tirar nenhuma foto do interior da Igreja, pois é expressamente proibido, mas pude registrar nos arquivos da retina e da memória cada pormenor. O interior é surpreendente, marcado pela exuberância da obra em talha dourada que recobre toda a igreja: cerca de 500 kg de ouro estão em seu altar, teto e em todos os detalhes.

 
 
Pormenor do magnífico trabalho em estilo rococó

 
O interior da Igreja guarda seis altares laterais e o altar-mor.  Este último apresenta magnífica talha repleta de motivos ornamentais, um trabalho de rara beleza e criatividade. Em um turbilhão decorativo, são centenas de elementos complementados com douramentos. Dois santos dividem a glória do altar-mor – Santo Antônio e São José. Vale a pena uma atenção especial para os atlantes, que aqui não são etéreos anjos, mas figuras masculinas, homens maduros que lembram muito figuras mitológicas gregas “sustentando” a parte inferior do altar. Ao alto, anjos carregam cornucópias. Do dossel central, saem cortinas que são seguradas por anjos, a sensação é de que, a qualquer momento, as cortinas se fecharão e o espetáculo barroco desaparecerá frente aos nossos olhos. O delirante cenário continua pelas paredes laterais da igreja. As famosas volutas, conchas, curvas e contra curvas do estilo, aqui foram usadas com maestria e há graciosos corpos de anjos que terminam em contorcidas folhas de acanto. magnificamente emolduradas, podemos ver duas telas, uma de cada lado do altar-mor, representando as Bodas de Cana e a Santa Ceia, de autoria de João Batista da Rosa. Tudo é magnífico.

A nave possui seis altares, todos mantêm o estilo barroco, com colunas torsas, profusão de anjos e douramento. O primeiro altar, à esquerda de quem entra na igreja, é dedicado a Nossa Senhora da Piedade com Cristo nos braços e merece uma atenção especial: todos os anjinhos (vinte e cinco) estão chorando. Na igreja não consta a autoria da obra.
O segundo representa a descida de Cristo da Cruz. O terceiro é dedicado à Imaculada Conceição.
O primeiro altar à direita de quem entra é dedicado a Nossa Senhora do Terço. O segundo é dedicado a Nosso Senhor dos Passos. O terceiro dedicado a São Miguel Arcanjo.

Contrastando com o barroco arrebatador da capela-mor, a decoração do coro é de um gracioso rococó, ornamentado com finos trabalhos de talha e de pintura.
 
Na base de suporte aparecem curiosos rostos de bruxas. A decoração ao alto do coro é de grande graciosidade e leveza, lembrando uma frisa de teatro, e guirlandas douradas são presas sutilmente ao forro. À frente da balaustrada, figuras de anjos descansam em pose relaxada, talvez pouco convencional para a decoração de uma igreja.

No coro, está uma das mais preciosas peças de Minas, o órgão vindo da cidade do Porto, em Portugal, que custou à Irmandade do Santíssimo Sacramento 202 mil réis. O imponente órgão datado de 1788 é considerado um dos quinze mais importantes do mundo. P
ara transportá-lo, foi necessário embalá-lo em 11 caixotes. E, em lombo de mulas, saiu do porto do Rio de Janeiro até a Vila de São José del Rei (ancestral  nome de Tiradentes). Sua bela caixa de madeira foi feita e decorada em estilo rococó pelo pintor Manuel Victor de Jesus. Ali podemos ver a figura do rei Davi tocando harpa para abrandar a ira de Saul e o salmo 150, 4, em latim, que tem a seguinte tradução: «Louvai-O com timbales e danças; louvai-O com cordas e órgão.»

O forro da nave da igreja (também de autor desconhecido), é contituído por dezoito quadros com símbolos bíblicos cercados de folhagens em outro. O assoalho da Matriz foi feito em óleo bálsamo em campas numeradas de 01 a 116. Nestas sepulturas estão enterradas pessoas de todas as classes sociais, desde nobres até escravos.

As duas sacristias são magnificamente decoradas com pinturas rococó (também de Manuel Victor de Jesus), que retratam santos e cenas do Antigo Testamento. Também guardam imagens dos sete passos da Paixão de Cristo.

É magnífica a prataria da igreja, principalmente as sete lâmpadas e os tocheiros do altar-mor. A lâmpada grande foi feita em 1740 no Rio de Janeiro e pesa 55 quilos.


 
 

Relógio de sol de 1785, no adro da Igreja Matriz Santo Antônio

No adro da igreja existe um interessante relógio de sol de 1785, chama a atenção do visitante Tornou-se símbolo da cidade e é reproduzido em delicado trabalho de pedra-sabão pelos artesãos locais. Dali, a bela paisagem formada pela imponente serra de São José seduz o visitante, tornando inesquecível sua visita a Tiradentes.

Independentemente de suas convicções religiosas, todas as pessoas que passam por Tiradentes têm motivos para visitar a imponente igreja, seja pela sua rica decoração ou pela bela vista da cidade do topo do morro.


 


Capela São Francisco de Paula.
No cruzeiro erguido em  frente  à  capela  podemos  ver  vários 
objetos simbolizando os momentos do martírio de Jesus Cristo.


 
Cada cidade tem encantos em cada canto. E sempre há um recanto preferido. O meu preferido é o morro da capela São Francisco de Paula: simplesmente um lugar para sentar e apreciar o crepúsculo em silêncio, um momento único em que o sol parece despedir-se no horizonte, enchendo de tons dourados o céu sobre o centro histórico de Tiradentes. A tranquilidade parece morar neste lugar de onde podemos observar a beleza imponente da Matriz e a melhor visão panorâmica do município, o que merece o esforço da caminhada.
 

 

Capela São Francisco de Paula e o Cruzeiro

 
A capela São Francisco de Paula não está aberta à visitação. Sua construção data do século XVIII. No cruzeiro erguido em frente à capela podemos ver vários objetos simbólicos, cada um representando um momento do martírio de Jesus Cristo: a sacola com as trinta moedas, o galo lembra o momento em que Pedro negou o mestre por três vezes, a cana que os romanos colocaram em Sua mão, como se fosse um cepto, os pregos que foram cravados em Suas mãos e pés, a escada usada para O descerem da cruz, etc.

 

Panorâmica da Matriz de Santo Antônio a partir do morro da Capela
de São Francisco de Paula. Daqui se obtém uma das melhores vistas
sobre a cidade.

 

Tiradentes é uma cidade calma, ideal para quem gosta de tranquilidade e sossego, Para quem gosta de se perder entre passeios históricos, culturais e naturais. E para, ao fim do dia, fazer uma boa refeição em um restaurante típico e acolhedor.
Assim é Tiradentes: linda, rica e conservada, onde a acolhedora alma mineira está sempre presente.
 

Vale a pena passar um “cadin” das suas férias lá, “uai”...


Tiradentes, 28/02/2012
Ana Flor do Lácio





Recebi, do exímio poeta recantista Giovanni Pelluzzi este belíssimo poema que agradeço, emocionada, a passo a publicar:
 

UMA BELEZA, UMA REALEZA EM TIRADENTES
 
Há um cântico entoando nas ruas de Tiradentes,
Uma salutar viagem em versos de uma semente,
São asas de Ana, são flores do Lácio,
Em pleno vôo noturno e diário,
Em céus de teus itinerários.
Vagas janelas em lumes acesas,
São tantas as belezas que brotam
E se notam com clareza, aos lindos olhos de Ana,
Que fora visitar o tempo e se encontrara
E se amara nas amarras das serras,
Nos lençóis de quimeras de uma bela
Expressão de amor que o passado fizera
Em teu coração rendido ao esplendor.
Passos nas pedras, casarios entre rios,
Sorrisos de sentinelas desvirginando janelas
E se complementando ao sol daquele lindo lugar,
Onde a lua se faz presente junto ao sol que a alumia,
Do outro lado do arrebol.

 
                                           ****

De Giovanni, para amiga Ana Flor do Lácio.
São João Del Rei, 02 de março de 2012.
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 02/03/2012
Reeditado em 04/03/2012
Código do texto: T3530317
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