Miscigenado eu?

Hoje, já passado mais de meio século de uma vida até certo ponto de boa para ótima, vejo que valeu a pena persistir na teimosia de continuar meus estudos. Não que isso venha me proporcionar mais rendimentos ou uma situação financeira mais estável, mas confesso que a cada dia aprendo inúmeras facetas deste fascinante povo brasileiro, como dizem por aí uma miscigenação de raças. Esta mistura trouxe a este povo muitos dissabores, mas também muitas qualidades. Dentre as qualidades, a que mais me chamou à atenção foi a garra, a fortaleza e a vontade férrea de vencer obstáculos impostos por uma sociedade sempre injusta e de difícil permanência.

E para falar em fortaleza, antes, temos primeiramente que conhecer de perto os protagonistas desta qualidade. E foi nesse intuito que busquei me inteirar mais da realidade presente de meus conterrâneos e colegas na infinita busca de um alvorecer mais alvejante no final de nossa jornada terrestre. Não são capazes de imaginar o que descobri e talvez nem possam vislumbrar os sacrifícios que muitos deles enfrentam para sobreviver e continuar na busca do saber, motivo de orgulho perante os eu não acreditam em suas forças. Imaginem uma pessoa que tem de levantar às quatro horas da manhã, fazer o almoço de sua prole, chegar ao trabalho às sete horas impreterivelmente para não ser chamada a atenção, trabalhar de oito a dez horas e depois passar de dezenove e vinte às vinte e duas e cinqüenta , muitas vezes cochilando, mas não se dando por vencida, não poderia nunca ser um puro, mas sim um miscigenado.

Nesta pesquisa simplória e talvez inútil, comparei os ditos “raça pura” e os miscigenados e também agradeci a Deus por fazer parte dessa mistura, pois me convenci de que os não puros são infinitamente mais fortes e determinados a vencer seja qual for o grau de dificuldade que tiver de enfrentar pela frente. Partindo deste princípio posso testar e confirmar com muito orgulho, sou miscigenado sim, e daí?