Dia de Sol. Céu de Brigadeiro. Mar de Almirante. Tudo perfeito. Nem tanto, até o cair da noite.  
                  No Céu as nuvens que beberam demais durante todo o dia ficaram apuradas. Em corrida desenfreada, de bexiga cheia se acotovelavam. Esbarravam umas noutras. Tropicando daqui e dalí . Lançando faíscas e rosnando. Até que conseguiram mictar no solo pré-aquecido de Floripa.
                  Despenca chuva em abundância. Fartura d’água. Formara uma “trovoenta violada” ou uma típica “trevoada” de verão. Depois o alívio. Mas, não arredaram pé.
                  Nem mesmo um pé de vento “suli”, tão desejado nestas ocasiões, deu o ar  da graça, revolto e forte para destampar o Céu enuveado que tocava o chão. Ficaram lá como uma tampa de panela de pressão.
                  Instalou-se uma calmaria entre o Céu e o solo ensopado de Floripa.
                  “Mar de rebojo, três dias de nojo” seria o destino da Ilha.
                  Das ruas de tapete preto esfarrapado e calçadas destratadas de Canasvieras emergia vaporosa cortina úmida e quente de tirar o fôlego. Vontade de despir a roupa já umedecida. Ficar assim na rua, já tão em moda neste falso verão de poucos dias ensolarados e da dança  do Teló.
                  Passos lentos e respiração ofegante entrei na “muvuca” do Centrinho.
                  Portenhos, “ohnetrop” bonaerense, dos “bons ares”. Penca deles. Arrastando pés. Inalando alegremente aquele vapor d’água. Tagarelando, lunfardando seu diaelo.   
                  Eu, um pacato Mané estrangeiro na terrinha afogueada e úmida.
                  Tentei espiar o Céu negro de dentro daquele formigueiro sem caminhos traçados.
                  Logo ali, ganhei à Madre Maria Villac. Imaginei que por ter sido Missionária, esta rua poderia ter recebido o alívio dos Céus. Ser abençoada com o refrescante fragor de uma noite orvalhado. Um   bolsão de ar celestial fresco e purificado.
                  O pecado era estar envolto por aquele manto abafado de trinta graus. Retornei para meu território doméstico. Chego. Abro a porta. Impressão de estar diante da boca de um forno prestes a assar.

                  Recebo um choque térmico. Meu espírito por pouco não se desprende do corpo e me deixa sem o chão.
                 
Retornei para meu território doméstico. Chego. Abro a porta. Impressão de estar diante      da boca de um forno prestes para assar. Recebo um choque térmico. Meu espírito por pouco não se desprende do corpo e me deixa sem chão.
                  Escancarei portas, janelas e basculantes. Esperançoso de colher uma nesga de vente encanado. Um pequeno e divino sopro. Envolver-me num gozo momentâneo de prazer.
                  Nada. Nadica de nada. Necas de bitibiriba.
                  Somente aquele desconfortante bafo produzido pela inconseqüente micção das cumolonimbus.


                             

                 
Mané das Letras
Enviado por Mané das Letras em 25/01/2012
Reeditado em 02/12/2015
Código do texto: T3461290
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