FUI DE MOTO.

Então é Natal. Resolvi ir passar a data na casa de meu irmão no interior do Espírito Santo, mas espera, bem no norte do estado, em uma cidade que se chama Ecoporanga, espera mais um pouco, na fazenda, que fica a mais ou menos uns 20 quilômetros depois da cidade, e tem que enfrentar a estrada de chão.

Pra culminar a aventura, fui de moto!

Acordei bem cedo (tipo 05.00), numa cidade do interior do Espírito Santo (hahaha, agora tenho o orgulho de morar aqui), já com uma pequena mochila arrumada, subi na minha linda moto e saí pilotando o veículo (garanto que não é pequena).

Primeira parada – claro o posto de gasolina, onde enchi o tanque e pedi ao frentista para me ajudar com o retrovisor. Tudo OK!

É claro que chamo a atenção de todos, uma mulher com uma moto daquele tamanho, e além do mais, toda produzida (roupa de couro, etc.) acredito que faço mesmo pra chamar a atenção. Adoro quando passo e ouço uns gritinhos.

Segunda parada casa de meu irmão (outro, ainda perto), que mora na fazenda, mas bem perto. Estava ele acordado, tomando café com a nova namorada. Realmente assustei os dois, sem querer, mas gostei, achei divertido.

Terceira parada casa de uma grande amiga, onde parei por um tempo, revi sua família, e com satisfação constatei que estava tudo bem com eles. Os garotinhos que conheci a algum tempo ainda estão vivos e bem, cresceram e ficaram ainda mais maravilhosos. E o marido que eu a aconselhei a guardar a sete chaves, continua guardado. Muito bom. Almocei, conversei, e sai novamente, feliz por ter estado lá.

Da cidade onde parei (Barra de São Francisco) até onde iria (Ecoporanga) a estrada está muito precária, e eu, fui na boa contornando os buracos, quando cheguei em Águia Branca (cidade no meio do percurso), e já cansada de acelerar para não impedir o trânsito, observei que havia um afastamento para parada de ônibus, onde dei seta e dei passagem ao carro que insistia em me acompanhar. Surpresa, quando o carro me ultrapassou, veio bem devagar, e o motorista, fez questão de me aplaudir. Ainda não recuperei meu ego (excepcionalmente inchado, ele, o meu ego, acredita que os aplausos eram por eu estar guiando de forma que merecia tal gesto).

Quarta parada, já em Ecoporanga, mas meu irmão não me esperou, acredito que ele não acreditou que eu iria mesmo. Se ferrou, descrédulo, tô aqui!

Continuo, após a cidade, após qualquer tipo de estrada, sou brava, eu vou!

Mas, depois de entrar na rigidez da terra batida, e cruzar com três caminhões basculantes, a poeira entrou em meu capacete e fez da minha lente de contato um lamaçal. Fiquei completamente cega, e isso para quem está sobre uma moto, é a treva literalmente.

Com a pouca visão que me restou, vi um bar, em um lugar inóspito, mas resolvi parar, lavar o rosto, tomar uma água e tentar limpar minha lente de contato.

Quando parei a moto, desci, e me dirigi ao balcão, um rapaz do fundo do bar gritou:

“_ Nossa parece filme, daquele tipo “A DESTEMIDA””

Eu fiz muito esforço para não cair ali mesmo e dar gargalhadas. Mas estava em um lugar desconhecido, com muita poeira, onde só tinha dois homens e uma mulher meio estranha…

Pedi uma água, o sujeito (que me pareceu dono do bar) me deu água em um caneco plástico, e imediatamente puxou conversa:

“_ A Srª tá indo pra onde?”

E eu, meio que pra me defender, disse logo que era irmã de fulano, etc.

Ele então ficou com cara legal pra mim, pois conhecia meu irmão, inclusive tendo trabalhado com ele.

Minha lente direita dobrou (pra quem usa sabe o que significa), fui cega de um olho até quase a casa de meu irmão.

Que viagem.

Consegui chegar, percebi que ele e a família demoraram a acreditar que eu tinha ido só, de moto, e estava lá.

Foi bom, um dia alguém vai entender que inobstante meu prazer de ter ido de moto, maior ainda foi estar ali.

Alguém quer saber a volta?

Cinthya Fraga
Enviado por Cinthya Fraga em 16/01/2012
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