FOI DE REPENTE

Um dia estava na fazenda com um bando de crianças me seguindo para fazermos um pik nik embaixo da mangueira carregada.

Fui lá antes, limpei o local, coloquei mesinhas. Depois fiz os lanchinhos com o maior carinho, embrulhei e chamei a galerinha que me esperava para o grande acontecimento. Fomos todos em fila indiana para sentar à sombra da mangueira e comer. O local fica distante da casa uns 20 metros, se tanto, mas era como se aquelas crianças fossem a outro país, tal o suspense.

Atravessamos a grama e penetramos em um matinho mais alto. Eles pequenos devem ter se sentido em meio a uma mata inexplorada.

Finalmente chegamos ao paraíso, as mesinhas e cadeiras nos esperando, e nossa farta comida. Eram apenas sanduíches e suco, mas para nós era uma fartura deliciosa.

Sentamos, comemos, ouvi seus risos de crianças, e retornamos à casa em menos de uma hora. Foi assunto que durou muito tempo, eles sempre me pedindo pra fazer outros programas como aquele, e eu fiz muitos outros parecidos.

Era uma alegria. Só tínhamos duas regras realmente rígidas: Não podiam ir ao rio nem ao asfalto sozinhos. Quando um deles começava a se aventurar os outros vinham correndo me avisar, e eu com um simples chamado fazia o aventureiro voltar. Dáva-lhe um pito, explicava os perigos e mandava ir brincar em outro lugar.

Adorei fazer coisas de tia, como sucos mirabolantes de bruxa, onde eu rebatizava os ingredientes dizendo que eram de asa de morcego, ou rabo de ratos. E de vez em quando ia ao encontro deles com uma grande jarra e anunciava solenemente que fizessem a fila para receber o melhor suco de todos, e é claro que era apenas água pura e gelada. Excelente para quem estava brincando no sol, e em temperatura de mais de 40 graus.

Quando pisquei, já eram aquelas crianças molecotes, que iam sozinhos nadar, e já tinham seus segredos.

Como aconteceu não sei, mas eles já estavam fazendo vestibular.

Comecei a ir à formaturas.

De repente são todos adultos, orgulhando esta tia velha. Ainda tenho o prazer de ter um na fase adolescente e outro pequetito, que me fazem rir muito. O adolescente com suas adolescências normais, e o pequeno que dá vontade de agarrar e nunca mais soltar, pedindo insistentemente para que não cresça.

A vida segue seu curso, e fico pensando que não vou ter mais uma fileirinha de crianças ansiosas e risonhas me seguindo em fila indiana para fazer um lanche em baixo da árvore, mas terei imenso prazer em saber que agora vou curtir os que vierem deles, com o mesmo amor.

Cinthya Fraga
Enviado por Cinthya Fraga em 12/01/2012
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