FÉRIAS DIFERENTES DEMAIS!!!

Joca escuta o barulho do motor do carro. Sai aparentemente feliz, alegre e satisfeito, afinal está de férias. Férias, férias! É só nisto que ele pensa!

Programou-as durante todo o ano passado e agora é o momento de desfrutá-las.

Como Joca, a Marluce, do outro lado da cidade, está empolgadíssima intentando pegar um trem e visitar a avó no interior do estado.

Joca, é um empresário bem sucedido do ramo de franquias e Marluce é balconista de uma grande rede de varejo no mercado brasileiro.

Pessoas diferentes, mas com projetos similares: curtirem as férias.

Marluce dirige-se à estação do trem, adquire o bilhete, sorri para a moça do atendimento, sorriso amarelado pelo tempo e pelo vício do cigarro. Feliz, bafora um 'vulcão' de fumaça ao vento antes de adentrar ao trem e seguir sua viagem rumo à casa antiga de sua avó, onde fora criada. As lágrimas descem de seus olhos, suas mãos tremem de nervosismo, acena com um lenço para os 5 filhos menores que estão na estação despedindo-se da mãe que irá passar uma semana fora. Uma semana de distância para aquela família parece uma infinidade, haja visto que nunca ausentaram-se por 1 dia, quem dirá por dias consecutivos! Será uma infinidade o tempo em que estarão separados por meros 73 quilômetros de distância. Nada mais que aproximadamente 1 hora de viagem tranquila, apreciando uma paisagem agradável.

Do outro lado da cidade, como já fizemos menção, está o bem sucedido monetariamente, o executivo Joca que também está em férias e viajando pela 14ª vez para a Flórida. Diferentemente de Marluce, ninguém vai deixá-lo no aeroporto internacional. Ele segue sozinho para o guichê da empresa aérea, desceu do carro sem sequer despedir-se do motorista, toma um gole de uma bebida forte, respira com dificuldade, mas prossegue, afinal de contas, ele precisa viajar, recarregar as 'baterias', respirar novos ares, encontrar pessoas diferentes, curtir outras culturas e retornar cheio de planos, ideias e projetos para aplicar em seus negócios no Brasil.

Nem a esposa de Joca, muito menos os filhos o acompanham nesta empreitada, ou seja, a viagem é solitária. Joca já acostumou a família que deveriam contentar-se com sua ausência devido às suas viagens de negócios ou de férias, - uma quase não difere da outra -, pois ele não se desliga mesmo. Nem por um minuto sequer ele para de pensar nos negócios e de como multiplicar sua fortuna. Joca não dá tréguas à concorrência e vive num estado de nervos intensos e à flor da pele. Sempre afirma que foi fácil conseguir seu primeiro milhão, mas o difícil está sendo manter e multiplicar este mesmo valor. Quem disse que vida de rico é uma facilidade? Joca que o diga: É dureza, mané!

As pessoas que estão no topo têm que procurar de toda a forma manter-se lá, caso contrário, a sociedade e a mídia em geral, comentam seu fracasso, seu insucesso e falibilidade. É preciso ser um super homem, um líder sem direito aos tropeços, aos desacertos, pois basta um vacilo, e os noticiários divulgarão as novas sem dó nem piedade.

A dura vida de Joca não o deixa dormir sossegado. O coitado vive à base de ansiolíticos tops de linha. Os mais modernos da indústria farmacêutica mundial, mas mesmo assim, esse homem anseia por felicidade. As drogas farmacêuticas atenuam suas ansiedades e dores, contudo não resolvem seus problemas existenciais. Ele não tem amigos, mas interessados. As pessoas que geralmente se aproximam dele, têm interesse em adquirir alguma coisa, receber algum benefício, vender algum produto ou serviço, dentre outros fatores. Joca sabe que não tem amigos, mas finge tê-los, afinal todos os empresários bem sucedidos são rodeados de 'amigos'. Ele não poderá fugir desta tradição. Seria escandaloso virar um solitário de carteirinha. É melhor ir sobrevivendo entre serpentes e escorpiões, mas sabendo quem é quem em cada relação.

Do lado oposto, Marluce despediu-se de inúmeras comadres, amigas de quintal, onde trocam um pedaço da coxa de frango por um corte de bife de segunda, abraçam-se como se nunca mais fossem se ver novamente. As lágrimas descem facilmente de suas faces. Choros sinceros, fraternos, amenos. A amizade estreita de longos anos, é um fato visível entre aquelas mulheres. Ali não há interesses, há amor. Ali não há astúcias, mas trocas solidárias de gratidão e afeição. Ali uma precisa do apoio da outra para ir sobrevivendo e elas sabem muito bem disto, pois emprestam ombros amigos umas às outras e seguem feliz sua existência.

Histórias diferentes de vida: Joca navegando nos milhões, porém andando na gélida companhia de sua inseparável solidão, enquanto Marluce na sua humildade, catando seus tostões, vive transbordando de felicidade e desfrutando de várias amizades sem interesses pessoais ou comerciais.

Assim segue o curso da humanidade.

Importante ressaltar que a pobreza não é uma virtude, nem a riqueza um pecado, mas não esqueçamos de viver bem e em sintonia com qualquer circunstância que envidarmos esforços.

Saibamos conquistar bens terrenos, porém saibamos detectar e cultivar as amizades verdadeiras.

Eis o segredo, pois não há remédio que cure a solidão!

Contos e Encantos
Enviado por Contos e Encantos em 08/01/2012
Reeditado em 08/01/2012
Código do texto: T3429501
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