NINHOS

NINHOS

Aposentos especiais, tecidos por seres amorosos para abrigar preciosidades.

Pessoas, sonhos, conquistas, lembranças. Local onde amadurecem esperanças desenvolvem-se aprendizados que possibilitam cada habitante, um dia empreender sua jornada pessoal e outro ninho formar em um ciclo interminável.

A princípio é tudo muito ralo. Sem consistência material. O que existe em abundância não se quantifica por peso nem por valor monetário. O patrimônio é imaterial: o desejo de construção conjunta. Dois seres frágeis começam a tecer o casulo que abrigará os rebentos que se transformarão em lindos seres , capaz de alegrar por sua simples existência, extasiar pela fragilidade ou pelo encantamento do bater de suas asas.

Tudo é novo e significativo. O ninho se forma com uma infinidade de pequeninas coisas amalgamadas na vivência que se constituirá em um repositório de ensinamentos capaz de fortalecer cada um dos seres nos momentos de tempestade.

Já vi ninhos de uma fragilidade exterior espantosa, porém aconchegante como útero materno. Entretanto observei outros que a suntuosidade os tornou intocáveis e gélidos. Outros cujas frestas criadas pelas rachaduras da intolerância, do desamor

e da violência possibilitaram a fuga daqueles que se sentiram sufocados onde deveriam se sentir acolhidos.

Ninhos verdadeiros são lugares de alegria, sorriso fácil, leveza, de ajuntamento espontâneo. Lugar de parada e de permanência. Porto seguro nas intempéries emocionais ou físicas.

Eles têm sentido pelo que transmitem sem palavras – ou com elas também- mas muito pelas sensações como toque suave de mão, o prazer de um leito macio, o cheiro de fruta madura, o alimento preparado com doçura.

Traduzem-se no descanso de um banho quente, em uma música relaxante, no relato dos momentos vividos.

Para mães, o ninho se completa no barulho da chave na fechadura e no mais sonoro e maravilhoso som que se pode ouvir. “Mãe cheguei”.

Quando estes componentes obrigatórios desaparecem os ninhos deixam de existir e em vez de serem âncoras que seguram nos vendavais passam a ser lugares onde os que ficaram viram fantasmas de si mesmo indecisos entre abrir a porta e fugir ou trancar-se, numa vã tentativa de não ver o tempo passar.

Isabel C. S. Vargas