Cinema de Todos os Tempos

Quando temos tempo, e a memória ainda funciona, passamos a recordar o Cinema de outras épocas. As matinés no Cine São Carlos, ali na Cesar Bierrembach. Quantas tardes eu passei ali. Eu já trabalhava no Bar do senhor Coelho, que ficava entre a Treze de Maio e a Saldanha Marinho. Como o estabelecimento fechasse, aos domingos, por volta das 12:30, e eu almoçasse lá, restava-me algumas horas de folga, antes de retornar para a minha casa. E eu ia ao Cine São Carlos, que exibia dois seriados por domingo, isto é, um seriado de “A caveira” e outro do de “Dick Tracy contra o crime”. Após, seguia-se um longa metragem, como “Sob o Céu da China”, estrelado por Gary Cooper e Loreta Young. Este talvez tenha sido o primeiro filme a que assisti.

Tudo isso em 1946. Lá pelas 17:00 eu estava pegando o bonde da Vila Industrial para retornar para a minha casa, de onde eu tinha saído ás 6 horas da manhã para estar no Bar Restaurante e Café do Sr. José Augusto Coelho. Bons tempos aqueles.

Eu fico pensando se tudo pelo que passamos e está guardado em nossas memórias ocupasse um espaço físico seria necessário um enorme depósito. Acredito que para mim, que daqui a 25 anos completarei 100 janeiros, seriam precisos dois desses depósitos.

Mas vamos ao que interessa. À noite, para entrar no Cine Voga (futuro Jequitibá, hoje já desativado) para qualquer filme a idade mínima era 14 anos. Sem paletó também não entrava.

Eu já com 13 anos pedi ao meu amigo Vitório, que trabalhava numa gráfica, que fabricasse um documento aumentando a minha idade. Ele só me pediu uma fotografia e disse que o resto ele faria. De fato, depois de alguns dias ele me trouxe um documento constando que eu era aluno do Bento Quirino, com 15 anos. Depois de várias idas ao cinema bem sucedidas, quando cheguei ao Cine Voga vi que o porteiro não era o mesmo. E olhando bem para mim, disse: “A sua Carteira é falsa. O carimbo é de uma tipografia e não do Centro de Saúde”. E arrancando a fotografia, que me entregou, jogou a carteirinha no lixo e me disse, por fim: “Vá lá na bilheteria pegar o seu dinheiro e volte daqui a dois anos”. E como eu trabalhava no Bar até as 20:00, deixei de ir ao Cinema à noite.

Em junho de 1949 eu trabalhava na Fábrica de Cola Campineira, do senhor Antônio Vacari, o melhor patrão de Campinas. Serviço duro, pesado, mas era reconhecido pelo Senhor Vacari que além de pagar bem, em todos os finais de anos nos pagava o abono de Natal, um pagamento completo. Coisa que só ele fazia uma vez que não havia leis que obrigassem as empresas a fazerem isso.

Então, eu voltei a frequentar os cinemas à noite. Já não existia o Cine São Carlos, que com o triste desastre ocorrido no Cine Rink, também foi desativado. Frequentei o Cine Voga, o Carlos Gomes (hoje é uma igreja), e um pouco depois o Casablanca (hoje o Teatro Castro Mendes com suas eternas reformas). Devo acrescentar que eu deveria ter uns 10 anos de idade quando fui com o meu Tio Liberato, irmão da minha Mãe, e o primo Rubens, seu filho, ao Cine República, que ficava no largo da Catedral, e que pegou fogo num dia de semana, de manhã, sem feridos para serem lamentados.

Depois vieram os cinemas de Bairro como o Cine Rex, na Vila Industrial, o Cine Real, no Bonfim, o Cine São Jorge, no São Bernardo, o Cine São José no Taquaral e outros.

Assisti a muitos filmes que marcaram época, por exemplo: Como era verde o Meu Vale; Matar ou Morrer; Retrato em Negro; Joana D´arc; Wichester 73; Mergulho no Inferno; Cidade Sem Lei; Arroz Amargo; Os Quatro Desconhecidos; Irmãos em Armas; Lei do Mais Forte; Jesse James; Depois do Vendaval; O Tesouro de Sierra Madre; As Duas Verdades; Sangue e Areia; Rififi; Corações Enamorados; O Cisne Negro; Guadalcanal; Don Juan; Paixão Selvagem; Capitão Blood; Sansão e Dalila; Céu Amarelo; Cinco Covas no Egito; E o Diabo disse Não; E o sangue Semeou a Terra; O Espadachim; Gentil Tirano; O Trapézio; Farrapo Humano; Salário do Medo; Os Canhões de Navarone; O Manda Chuva; Passagem Para Marselha; Salomé; Casablanca; Precipícios D´alma; Páginas da Vida; O Dia Em Que A Terra Parou; Os Melhores Anos de Nossas Vidas; O Favorito dos Borgias; A Felicidade não se Compra; O Falso Traidor; Um Punhado de Bravos; Os Homens Rã; Ama-me ou Esquece-me.

Mais uma infinidade de faroestes e filmes bíblicos, filmes policiais, e de outras categorias. Os filmes bíblicos não estavam entre as minhas categorias favoritas, mas mesmo assim assisti a vários como Fabíola, Sansão e Dalila; Daniel e os Leões. Um filme bíblico do qual gostei bastante foi “O Sinal da Cruz”. O Filme era mais ou menos assim: na época da Segunda Guerra uma Fortaleza voadora, um B 52 americano, estava indo bombardear uma montanha na Itália onde tropas alemãs estavam entrincheiradas. Na tripulação do avião havia um padre, que foi descrevendo tudo o que havia acontecido ali naquelas cidades, às quais eles estavam sobrevoando, no tempo de Nero. E o filme mostrou tudo o que os cristãos sofreram naquele tempo. O Final do filme volta ao avião que já tinha cumprido sua missão e na tela aparecem com ele outros aviões em uma formação que lembrava uma cruz sumindo no céu.

Bons tempos aqueles.

Laércio
Enviado por Laércio em 23/12/2011
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