Além do Morrer

O melhor lugar para dar-se conta do limite da vida é ficar sentado na beira da lápide de um túmulo, no cemitério, apenas observando.

O silêncio chega a ser constrangedor, mesmo que haja pessoas andando por entre os túmulos à procura de algum parente que já tenha sido sepultado, ou que se escute vozes distantes, ou passos firmes caminhando nos cascalhos. Nada disso parece romper o silêncio que há no cemitério. É parte daquele lugar.

O sentido da visão se aguça. Pode-se ver sobre cada túmulo o colorido das flores. Sim! Flores! As mesmas que enfeitam a vida em tantas ocasiões de alegria e festa! Ali, passam a ser símbolo de esperança de vida eterna. E sabem por quê? É exatamente neste lugar que nos damos conta que somos matéria e que ao pó voltaremos. Esperamos, então, ter algo mais, espírito, quem sabe. E desejamos ardentemente a vida, agora, eterna, pois não queremos que aquele lugar ali, silencioso e solitário, seja nossa última morada eterna, porque eterno é um tempo muito longo para quem viveu só um pouquinho na face da Terra.

Vêem-se também as velas. Algumas acesas ainda, outras apagadas, outras já consumidas. Todas semelhantes às vidas que passaram ou passam ou passarão por aquele solo dito sagrado. Mais uma vez depositamos nelas a esperança e o desejo do eterno viver. Não aceitamos o limite imposto pela natureza do corpo. Voltamo-nos ao espírito mais uma vez!

Da lápide, se pode ver o quanto somos miseravelmente pequenos e que nada, absolutamente nada levaremos. Nem o próprio corpo que carregamos sei lá por quantos anos até o dia de nossa morte e que nossos entes chorarão na hora de depositá-lo no escuro e solitário espaço que nos é reservado para apodrecer. Fecha-se a porta para este mundo. Abre-se outra para a eternidade (que daqui deste mísero mundo não vemos). Isso nos enlouquece e passamos a vida questionando "para onde iremos depois que...?" (evitamos a palavra morte, porque nos causa pavor!).

Precisamos acreditar no espírito que saiu de nós; que era o que nos dava a vida e a inteligência; que era o que nos diferenciava enquanto seres vivos. Precisamos ir além do túmulo, das flores, das velas, para que não morramos perambulando pela Terra sem sentido para viver.