Símbolo
           que encanta e fala




     Perambulando pelos Shoppings da cidade, num deles, vi uma coisa que, imediatamente, me chamou a atenção.
       Quase adejando, por mim passou uma jovem mulher usando uns brincos, que descobri serem dois Taus franciscanos, pequeninos e delicados como os lóbulos de suas orellhas.
        Abelhudo como sempre, abeirei-me dela, e  lhe perguntei por que havia optado por aqueles brincos tão lindos!
         E ela: "Porque os achei charmosos, diferentes, e daí?"
         Quis, então, saber se ela conhecia a história do Tau, de repente transformado em brincos, a lhe embelezar o rosto, sem uma ruga sequer.
          Para encurtar a estória, ela foi logo se despedindo, sob a alegação de que ainda iria comprar um presente; um perfume. E lá se foi ela com seus brincos seráficos acompanhando-lhe os passos e enfeitando-lhe o sorriso.
          Oh! Podia lhe ter dito tanta coisa bonita sobre o Tau! Faz mal não. Um dia alguém lhe falará sobre este simpático símbolo seráfico, que encanta e fala...
           O Tau, nem todo mundo sabe disso, não é, apenas, uma letra grega ou hebraica. Ele tem origem bíblica. Está no Livro do Profeta Ezequiel.
            Dizem os que escreveram ou escrevem sobre Francisco de Assis que, nesse texto do Antigo Testamento, o Poverello teria ido buscar o Tau, para transformá-lo em um dos seus símbolos.
            Andei, porém, lendo - e até estranhei -, que "nos escritos do próprio Francisco" não fora encontrada "nehuma referência direta" ao Tau.
            Inegável, entretanto, que o tempo fez do Tau talvez o principal sinal do santo seráfico. Ao lado, digo eu, do Crucifixo Bizantino de São Damião, que cheguei a ver, no Mosteiro de Santa Clara, em Assis.
            Mas, em se dando crédito ao que escreveram dois dos mais autorizados biógrafos do santo, Tomás de Celano e São Boaventura, Francisco de Assis descobrira e acolhera o Tau com devoção e respeito.
            Celano recorda: "Familiar lhe era, entre outras, a letra tau, com a qual somente assinava os bilhetes e decorava as paredes da cela." 
            Não só os bilhetes, como as cartas, "sempre que, por necessidade ou espírito de caridade, sentia necessidade de escrever para alguém", completa Tomás de Celano.
            E São Boaventura, sempre imbuído do propósito de fazer Francisco um alter Christus, revelou "que o tau era um sinal muito querido do santo. Recomendava-o muitas vezes, fazia-o sobre si mesmo antes de iniciar qualquer trabalho e o escrevia  de próprio punho no final das cartas que escrevia..."
            Frei Aldir Crocoli, OFM Cap, num site franciscano, disse o seguinte: "... o Tau para Francisco seria o símbolo de uma opção por uma radicalidade de vida onde o Evangelho se torna  a regra máxima do viver."
            Meio difícil de entender, mas vá lá.
            Creio que nesse pensamento do frade capuchinho, pode estar o segredo da mística do Tau franciscano, hoje muito usado pelos devotos do Pobrezinho de Assis.
            No meu modesto Sandero, ele está, ajudando-me a enfrentar, com paciência e caridade, a batalha diária do desesperado trânsito de Salvador da Bahia.

                    ***  ***   ***

            Nas igrejas de todo o mundo prosseguem as novenas em louvor de São Francisco de Assis, nascido em 1182 e morto na manhã do dia 3 de outubro de 1226, um sábado na Úmbria.
           No dia 4 de outubro, foi enterrado na sua cidade natal. Em romaria, estive no seu túmulo duas vezes!!


                    ***   ***   ***

            E por falar em romaria, dia 2 ou 3 de outubro estarei em Canindé. Nessa tórrida e acanhada cidade, que fica a pouco mais de cem quilômetros de Fortaleza, está o maior santuário franciscano das américas.
             De uma simplicidade que comove, o santuário de Canidé é, não tenho a menor dúvida, abençoado por Francisco, que, como sabe o caro leitor, foi, em vida, a sítese da mais completa e perfeita singeleza.
             Estarei, pois, lá com o meu Tau à mão; e, quem sabe, lembrando-me da moça do Shopping que, de repente, descobre está seráfica crônica, e a lerá pensando em mim...        


 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 28/09/2011
Reeditado em 29/12/2020
Código do texto: T3246410
Classificação de conteúdo: seguro