Jesus Cristo, o saradão

     
Moacyr Scliar, o saudoso escritor gaúcho, deixou-nos O Imaginário.  Um livro reunindo pequenas estórias que ele escrevia para a seção Cotidiano, da Folha de São Paulo.
      Essas estórias, o Scliar as escrevia em cima de notícias interessantes ou estranhas que a Folha publicava, diariamente.
      Ele pegava, por exemplo, uma notícia como "Homem de 24 anos joga sua avó do 21 andar" e, a partir dela, criava um "texto ficcional"; uma pequena história. Era, digamos, um notícia fazendo uma estória.
     O mesmo acontece com a crônica. Uma boa notícia faz uma boa crônica. E é o que faço agora.
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     Na Folha de São Paulo encontrei o tema para minha crônica de final de semana.
     E, mais uma vez, envolvendo a figura de Jesus de Nazaré, ou de Belém, como queiram.
     A pergunta foi sempre esta: como era o Jesus histórico fisicamente? Um baixinho ou um galalau? Preto, moreno, amarelo, ou branco de olhos azuis? Um homem alegre, ou um cara sisudo? Feio ou bonito?
     Posso dizer que ele sempre me pareceu um homem austero, circunspecto. Para ser mais claro, não conheço uma só foto ou uma só imagem do Messias distribuindo simpatia, com um sorriso nos lábios. 
     Culpa da Igreja? Não sei.
     A certeza que se tem é que ele encantava pelas suas pregações ardentes, suas sábias parábolas, seus surpreendentes milagres e seus conselhos sensatos e oportunos. Nunca porque era um bonitão.
     Nem Maria Madalena, que se diz por aí fora sua grande paixão, deixou dito, nos Evangelhos - onde ela aparece mais do que ninguém -, que Jesus era um camarada feio ou bonito.
     Pra nós, ocidentais, restou a imagem de um homem bonito, branco, barba bem-feita, cabelo longo, aloirado e crespo.
     Mera ficção? Sei lá...
     Todavia, se levado em conta região onde o Profeta nascera, Belém ou Nazaré, cidades palestinas, ele foi um judeu amulatado e  de cabelo encaracolado.
     Paciência! É o Jesus louro que conheço, desde que soube da sua existência; o que vale dizer, desde que vim ao mundo, por ele, segundo consta, criado.

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     Vez em quando, aparece nos jornais a figura de um Jesus diferente daquele dos altares ou descrito nos quatro Evangelhos.
     Não faz tanto tempo, o Messias foi visto num jornal malaio "segurando um cigarro em uma mão e o que parece ser uma lata de cerveja na outra"! Um Jesus boêmio?
     As autoridades locais, "em respeito aos sentimentos religiosos dos católicos" da Malásia, pediram o fechamento do jornal. 
     Não sei dizer se a punição foi aplicada.
     Agora, a Folha de São Paulo dá destaque à notícia veiculada pela BBC Brasil, segundo a qual, um artista acaba de criar o "Jesus sarado".
     As fotos publicadas, inclusive, no The New York Times, mostram o Cristo de braços musculosos, tatuado, peito estufado, leve, fazendo inveja ao mais afamado dos halterofilistas. 
     Assegurou o desenhista, que pretendia, com o seu Jesus sarado, "aproximar os jovens da religião". 
     E completou: "Não sei como Cristo era visto há 2 mil anos, nem me importa. Quero criar uma iconografia que seja relevante para hoje."
     Que me perdoe o meu vigário, se, por acaso,  tiver a felicidade de ler esta crônica, mas gostei da ideia de um Jesus moderno, descontraído.
     Não o Jesus fumando e tomando uma cervejinha, mas o Jesus saudável, aluno assíduo de uma academia de ginástica.
     Sugiro até, que essas academias ponham em suas paredes, à vista de todos, fotos do Jesus saradão, como quer que assim ele seja o artista Stephen Sawyer.
     Os jovens, com certeza, vão querer saber de quem é aquele retrato. "Quem é aquele de bíceps respeitáveis?", haverão de perguntar.
     Afinal, uma maneira alegre de evangelizar?
     Pode ser.

     
     
     
     
 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 24/09/2011
Reeditado em 24/09/2011
Código do texto: T3238609