Mal Sem Cura

Mal Sem Cura.

Guel Brasil

Nos anos sessenta houve uma grande seca no sertão; junto com a seca chegaram as doenças que matam como a febre tifo, desidratação, e matou tanta gente que não deu para contar. Só da minha família foram quatro e nesta leva estava minha mãe que Deus a tenha, o finado Jeremias, tio Aniceto irmão de meu pai, e a finada vovó Belém mãe de meu pai. Tios, primos e parentes mais distantes, foram incontáveis como também foram incontáveis os amigos que acabamos perdendo. A febre tifo e a desidratação mataram todos eles. Agora, no retiro, tendo melhor conhecimento das coisas é que fiquei sabendo por que se deu essa epidemia. A maioria das pessoas eram analfabetas e não tinham nenhuma noção de higiene; o resto da água que tínhamos para beber não era tratada, e dividida com os animais que bebiam da própria fonte ou cacimba, e que deixavam ali seus dejetos como fezes e urina.

Não existia banheiro ou sanitário para as pessoas que ali viviam; elas faziam suas necessidades espalhadas por todos os cantos do cerrado e na maioria dos casos próximo das residências.

No sertão é assim; quando a providencia chega é sempre tarde, e a morte sempre chega primeiro ceifado uma centena de vidas. Melhorou muito, mas não acabou; a mídia tem mostrado para o mundo as várias mazelas onde os pobres e os negros vivem, mas a mídia não mostra para o mundo o modo de vida daqueles que vivem no sertão em estado de miséria absoluta, morando em seus casebres feitos de taipa de pilão cobertos com folhas de coco ouricuri, e não sabem sequer o significado da palavra higiene. A ausência do Estado é um mal que não tem cura!....

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 22/09/2011
Código do texto: T3235048
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