MARCELY É FOGO!

— Dinheiro! Dinheiro! Vira o disco, Marcely!

— Que isso, Evandro Henrique?

— Cê só sabe pedir dinheiro?

— Cê é meu marido!Vou pedir pra quem?

— Mas tem que ser todo dia?

— Uai! Eu preciso, meu filho!

— As dívidas, né? Compra tudo que vê...

— Epa! Nada disso, Vandinho!

— Vandinho não! Eu tô com raiva!

— Então tá! Muquirana! Sovina! Avarento! Pão-duro! Mão de vaca! Unha-de-fome! Somítico!

— Somítico?

— Somítico sim!

— Marcely! Isso não é do seu vocabulário!

— Pois é! Pesquisei só pra te chamar!

— Para! Para agora, Marcely das Graças!

— Paro nada! É verdade!

— Cê dá o passo maior que a perna. Depois...

— Ah, cê tá rico, Evandro! Tá cheio da bufunfa...

— E daí? Cê tem que gastar tudo?

— Tô boba com a sua “somitiquice”, viu? Credo!

— Se eu deixar cê me quebra, mulher!

— Então tá... Cê não vai dar, né?

— Não vou não! Não vou mesmo!

— Tá certo! Amanhã eu volto pra minha antiga vida...

— Peraí, Marcely! Isso não!

— Isso sim! Vou cavar meus money... Qual é?

— Cê quer me matar de vergonha, né?

— Taí, quero mesmo!

— Eu sou empresário, esqueceu, Marcely?

— Quando cê me conheceu era aquilo que eu fazia...

— Agora cê é minha mulher...

— Tá resolvido, Vandinho!

— Vai pirraçar, vai, Marcely?

— Vou! É amanhã, Vandinho!

Marcely das Graças é fogo! Periferia da cidade, Beco dos Aflitos, ela estaciona o reluzente BMW. Salta linda e soberana “Ah, quando os amigos do Munheca de Samambaia souberem!”. Cruel e vingativa, ela dá o troco: agora é manicure no salão “Entre um canhão, saia um avião”...