Escritores e suas bobagens

     Na sua edição, revista e ampliada, está nas livrarias o livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, do jornalista Leandro Narloch. Muitíssimo agradável e interessante. 
     Vale ser lido, e, como opção, ser dado de presente ao amigo secreto, no próximo Natal. Ou à amiga secreta, desde que ela não se interesse mais ou, apenas, pelas revistas Caras e Contigo.
     Eis os títulos de alguns capítulos do livro que despertaram minha atenção, tão logo comecei a folheá-lo: Santos Dumont não inventou o avião; Quem mais matou índios foram os índios; Origem da feijoada é europeia; Zumbi tinha escravos e Pequena coletânea de bobagens dos nossos grandes escritores. 
     Quem são os grandes escritores que, segundo o livro do jornalista Leandro Narloch, um paranaense de Curitiba, teriam feito ou escrito bobagens ao longo da vida?
      A maioria dos leitores que me dá a honra de visitar meu Site sabe quem são eles, e como eles derraparam...
      Creio, entretanto, que há amigos leitores que não sabem ou ainda não se ligaram nesses deslizes de alguns dos nossos azes da literatura pátria. 
     Abrindo o capítulo, salienta o jornalista: "Intelectuais famosos nem sempre são geniais. Cometem besteiras em troca de dinheiro, adotam ideologias da moda que se revelam loucura e escrevem coisas de que depois se arrependem.
     Erram principalmente quando jovens, o que é de se esperar. Mas alguns insistem no erro até a velhice, sustentando toda sua obra em equívocos fundamentais.
     Quando entram para a história, passam por uma triagem que ao longo dos anos retira imperfeições, feitos medíocres e detalhe bizarros,
     Nas biografias e nos verbetes de enciclopédias ficam somente os cachos vistosos do bom-mocismo."
          Sete escritores aparecem no livro e são eles: Machado de Assis, José de Alencar, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Gregório de Matos e Euclides da Cunha.
     Mas será que esses homens iluminados, que, inclusive, figuram entre os melhores da nossa literatura, fizeram ou disseram bobagens?
     Como costumo fazer, para não cansar meu ilustrado leitor, vou tentar resumir, pegando o principal, o que sobre eles escreveu Leandro Narloch, admitindo, in limine, que nada de novo encontrei.
     Inicio com Machado de Assis.
     O Bruxo, excelente crítico literário, foi o grande "censor do Império". Ocupou esse cargo na Conservadoria  Dramática, órgão da corte ligado a Dom Pedro II.
     Há pareceres históricos seus, censurando peças de teatro. Seguia a risca:sò seriam liberadas aquelas que a Família Imperial horaria com sua presença!
     Machado - pasmem! - foi considerado um censor intransigente e, alguns momentos, de uma crueldade estranha, nos seus pareceres. 
     E eu pergundo: pode-se imaginar Machado de Assis censurando, oficialmente, o pensamento e a obra de um teatrólogo, de um intelectual?
     José da Alencar. O livro traz de volta a história das cartas de Alencar defendendo a escravidão negra no Brasil. Essas missivas, que passaram "desaparecidas" 140 anos, tentavam convencer dom Pedro II a deixar de lado a causa abolicionista. 
     No entanto, e isso é formidável, foi o Ceará, terra natal do autor de Iracema, o primeiro Estado brasileiro a libertar os escravos. Em 2008, as cartas foram resgatas e divulgadas, causando o maior rebu.
      Teria José de Alencar cometido alguma bobagem defendendo a escravidão? É só conferir as justificativas que apresentava para fundamentar sua posição a respeito perante o Imperador. 
     Jorge Amado. Foi um comunista acolhido por todos a vida toda. Mas, mas, lá pelos idos de 1940, com apenas 28 anos de idade, Amado defendeu, lembra o livro, ardorosamente e ao mesmo tempo, dois sanguinários do século passado: Hitler e Stálin.
     Admite o jornalista Leandro que "questão financeira" teria obrigado ao Amado Jorge a defender, em artigos publicados no jornal de esquerda Meio-dia, os dois sicárius.
     Em 1956 teria se afastado de Josef Stálin. Mas sua obra se espalhou por toda a União Soviética: mais de 10 milhões de cópias. O mestre de Gabriela Cravo e Canela morreu admirando Karl Marx. 
     Gilberto Freyre. Diz o livro: torceu ardorosamente pelo "embranquecimento" do povo brasileiro, assumindo uma posição racista. Ele um renomando antropólogo. 
     Mas o que mais me surpeendeu foi a notícia de que o Solitário de Apipucos saiu em defesa da Ku Klux Kan, até em trabalho de mestrado, nos Estados Unidos.
     Uma bobagem do magnífico autor de Casa-grande & Senzala? Pode ser. 
     Euclides da Cunha. Sua maior bobagem, e isso o livro salienta muito bem, foi machucar, humilhar, maltratar Anna Cunha, sua mulher. 
     Abandonada pelo marido, ela o traiu com o bonitão Dilermando de Assis, capitão do Exército brasileiro.
     Todos conhecem a tragédia do bairro carioca de Piedade. Atingido por um único tiro do revolver de Dilermando, Euclides da Cunha tombou morto, depois de, com destemperado ciúme, atirar no capitão.
Bobagem! Bobagem!
     Deixando Gregório de Matos para outra ocasião, fecho esta crônica com a bobagem que esescreveu o nosso sisudo Graciliano Ramos;.
     O nobre escritor alagoano, destaca o livro, com a veemência de sua caneta, posicionou-se contra a prática do futebol. Esporte, disse ele, "incompatível com a índole do povo brasileiro".
     Em uma crônica de 1921, defendeu seu ponto de vista afirmando, entre outras coisas, que "o futebol era uma moda passageira que jamais pegaria no Brasil". 
     Aos jovens aconselhou a prática de outros esportes nacionais (futebol era estrangeirice) como a "rasteira", sim a rasteira, para ele, o "esporte por excelência nacional".
     O tempo contrariou dolorosamente o autor de Vidas Secas.
     Vivesse Graciliano Ramos em tempos de Brasil penta campeão mundial de futebol, e não hesitaria em ser o torcedor mais ilustre do modesto, mas aguerrido Asa de Arapiraca.    Bravo! Não é somente eu que diz e escreve bobagens!!!

          
     
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/09/2011
Reeditado em 11/09/2011
Código do texto: T3211924