BRINCANDO NO PASSADO

Acordei hoje muito cedo com alguns problemas vividos durante a semana acossando-me a mente. Para tentar afugentá-los, visto que os simples argumentos mentais que usava para tentar desqualificar a sua importância não estavam sendo suficientes para espantá-los, e logo hoje, sábado, dia em que tiro para dormir mais um pouquinho. Busquei na memória algo que pudesse excitar minha mente e focá-la em algo que não fossem os míseros probleminhas, que apesar do racional estar convencido da sua pequenez, o complexo emocional não conseguia desgrudar dos mesmos. Freud explica!

Fui buscando e me deparei com um brinquedinho do tempo de infância que construíamos, assim como fazíamos com quase todos os brinquedos naquela época. Época em que não havia computador e vídeo games e até mesmo a televisão na nossa cidade, por muito tempo, foi privilégio de apenas um morador e assim mesmo era em preto e branco e as imagens pareciam fantasmas, além do chiadeiro que quase tornava inaudível o som das palavras. Quanto aos brinquedos industrializados, existiam poucos, mais o acesso aos mesmos passava longe da condição financeira de nossos pais.

O primeiro brinquedo que veio à mente foi um caminhãozinho de madeira que construíamos a partir de diversos materiais que catávamos em casa ou na rua. A frente era feita com metade de uma lata de óleo de cozinha, dessas retangulares que tentávamos imitar a frente de um caminhão de cara chata que ainda existe nos dias de hoje. Abríamos um buraco na frente na altura do pára-brisas que era construído de plástico transparente. O faróis eram duas tampas de tubo de creme dental. Com dois pedaços de madeira pregados longitudinalmente constituíamos o eixo central do caminhão aonde fixávamos os eixos das rodas e a carroceria, ambas construídas de madeira. As rodas eram feitas com borracha de chinelo de dedo. Já os amortecedores ou fechos de molas, construíamos de tiras de aço, dessas utilizadas para amarrar caixas de embalagens, que atualmente são feitas de material plástico.

A partir da reconstrução mental desse brinquedo, desfilou na memória uma miríade de brinquedos outros que prazerosamente construíamos, para o nosso deleite: Pipas, fura-chão, elicóptero, aviões, barcos, carrinho de rolimão, atiradeira, roladeiras...etc. E foi sob esse desfile colorido de minha infância que Morfeu me recolheu em seus braços e pude, enfim, concluir o merecido cochilo dessa manhã, sem mais os feios probleminhas que o adulto, esquecido da criança dentro de si, aprendeu a construir.

Chico Alves dMaria
Enviado por Chico Alves dMaria em 13/08/2011
Reeditado em 13/08/2011
Código do texto: T3157408