LEGALIZE JÁ!

O Sr. Adverbilson (nome fictício, naturalmente) deixa seu humilde apartamento todas as manhãs rumo a seu escritório de contabilidade, após um café da manhã básico. Em sua empresa, entre uma planilha de cálculo e outra, o veterano contador faz alguns breves intervalos. Uns para beber água ou café, para ir ao banheiro, alguns para comentar a rodada do Brasileirão com os amigos, para olhar a recepcionista gostosa... e mais alguns para fumar. Sim, fumar. “Seo” Adverbilson, como é conhecido entre os colegas, é um profissional dedicado e respeitado. Formou-se em Contabilidade nos primeiros anos após deixar o Ensino Médio e tem uma pós-graduação na área. Todas as sextas-feiras, acompanha seus correligionários ao boteco mais próximos para alegres partidas de bilhar e truco, cervejadas e alguns “cigarritchos”. Aos fins de semana, leva a esposa e os filhos a teatros, museus, cinemas, parques, estádios, restaurantes ou simplesmente curte a companhia de seus familiares ao lar. E quem não diria que Adverbilson leva uma vida serena e equilibrada?

Talvez...quem sabe? Sim, muitas pessoas diriam! Os já citados “cigarritchos”, ao menos os vendidos em bancas de revistas, bares, lanchonetes e afins, são à base de tabaco. Uma droga rica em substâncias cancerígenas, especialmente geminado ao alcatrão. Não é preciso entrar em maiores detalhes: este artigo não é químico e o nome delas é facilmente localizável nas embalagens de cigarro. O fato é que os “cigarritchos” de Adverbílson são à base de maconha. Maria Joana para os íntimos, como Bob Marley. O respeitável Sr. Adverbílson fuma maconha. Baseados para relaxar. “Meu Deus, quem contratou um maconheiro?”, diz uma assessora administrativa. “Ah, então é por isso que ele gosta tanto de reggae”, solta o advogado do setor jurídico, já tratando de rotular o colega de empresa. “É verdade que ele usa haxixe também, é?”, comenta algum chefe de gabinete. “Mas justo ele?”, decepciona-se algum outro contador, decepcionando-se com um amigo de profissão. Logo, a empresa toda passa a observar com mais atenção os traços comportamentais do Sr. Adverbilson, em um misto de decepção e revolta.

A sociedade puritana condena o uso da maconha. Tacham a droga de “porta para outras mais fortes”, “desvio social”, “coisa de marginal”, o escambau. Entretanto, é a mesma sociedade ignorante à fumaça do tabaco. À bebida alcoólica que muitas vezes destrói lares e veículos. Aos obesos pratos de redes de fast-food. Ao jogo nem sempre divertido. Entre outros vícios que possam merecer mais atenção. Mas a erva tão apreciada por pessoas trabalhadoras segue como alvo da fúria empedernida dos falsos sóbrios e hipócritas de plantão.

Esses ofendem, humilham, rotulam. “Diga não ao baseado!”, urra o profeta. Baseado em que ética?

O autor não fuma e não suporta a fumaça dos “cigarritchos”. Mas também não suporta a falta de coerência.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 12/08/2011
Reeditado em 01/08/2012
Código do texto: T3156694
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