Entre Fortaleza
       e São Luís




     Acabo de chegar do nordeste.
     Estive alguns dias em São Luís do Maranhão, depois de uma rápida passagem por Fortaleza, minha terra, numa decisão de última hora. 
     É muito difícil ir ao nordeste sem dar um pulinho na sorridente Fortaleza, a "loira desposada do sol", no soneto de Paula Ney, um de seus mais ilustres filhos.
     "Lá - diz o Ney - canta em cada ramo um passarinho/ Há pipilos de amor em cada ninho".
     Fiquei hospedado em um dos excelentes hotéis da orla; olhando para o mar, verde e bravio, como o descreve Alencar, falando de Iracema, " a virgem dos lábios de mel". 
     Acredita-se, que, por causa da legendária índia tabajara, há um sabor de mel nos lábios das cearenses. 
     Que o digam aqueles que tiveram a sorte de prová-los, ainda que furtivamente...
     Da janela do meu quarto de hotel, eu vi as velas do Mucuripe "saindo para pescar", como diz a canção do Belchior e do Raimundo Fagner; vi o sol se despedindo da cidade, sem querer deixá-la; e vi o aparecimento das primeiras estrelinhas que chegavam para iluminar o céu da volta da jurema.
     À tardinha, senti o cheiro forte dos peixes trazidos por pescadores; podia ser um pargo, um robalo, arabaiana, ou um sirigado, a caminho de um restaurante que recebeu o seu nome, lá pros lados da Varjota.
     Oh! Fortaleza! Viver você vinte e quatro horas é muito pouco! O confortante é que a gente de você se despede com uma incontida vontade de voltar...
     Como disse, estive em São Luís do Maranhão, cidade que só conhecia através dos livros do saudoso Josué Montello. 
     Como Salvador, São Luís também tem seu Centro Histórico. Fui conhecê-lo, numa tarde de mais de 30 graus. 
     Comparando-o com o Centro Histórico da capital baiana, devo dizer que o de Salvador me parece mais acolhedor e mais preservado.
     O casario do centro histórico salvadorense é mais colorido e mais compacto. 
     No de Salvador não há, nas suas ruelas, paralelepípedos. O calçamento é de pedras irregulares, rejuntadas, o que lhe dar maior autenticidade. 
     Os dois Centros Históricos, diga-se a verdade, têm locais onde a degradação arquitetônica  é evidente e revoltante. 
     Mas passeei pelo Centro Histórico maranhanse me lembrando que ali era a terra natal de poetas que preenchem aquelas horas em que somente a boa poesia me traz a tranquilidade que, de repente, necessito. 
     Cito, entre outros, Coelho Neto, Catulo da Paixão Cearense, Artur Azevedo, Ferreira Gullar, Odílio Costa Filho e Raimundo Correia, o poetas de As Pombas
     Sem esquecer outros ases da literatura pátria, que também ali nasceram, e encantam os leitores com seus formidáveis escritos: Humberto de Campos, Aluizio Azevedo, Viriato Correia, Graça Aranha, Josué Montello e João Mohana(ex-padre), que tanto li quando, ainda moço, procurava me aprofundar na literatura religiosa de alto nível; sem pieguices.
     De tanto ouvir falar, quis conhecer a Praça dos Amores. 
     Haviam me dito que lá econtraria a estátua de um dos maiores vates do Maranhão, talvez o maior: Gonçalves Dias.
     Fui lá, já ao cair da tarde. A partir dela se tem uma vista privilegiada de São Luís. 
     Mas a pracinha, amigo, para frequentá-la, é preciso ter muito amor por alguém. 
     Está, praticamente, abandonada. 
     Não recebe, diria, o tratamento que é dispensado ao Palácio dos leões, sede do governo maranhense.
     Gonçalves Dias não merece isso. 
     Creio que as aves da Praça dos Amores não gorjeiam com a beleza que o poeta de Canção do Exílio lhe quis dar,ao compará-las com as aves de Coimbra, lá pelos idos de 1843: "Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o sabiá;/As aves que aqui gorjeiam/ Não gorjeiam como lá".
     Mas depois de tanta coisa bonita e boa que vi em São Luís, abro um parêntese para falar mal do seu aeroporto. 
     Aeroporto? Qui aeroporto? Mais parece um assentamento de sem-terras. 
     Na hora do sheck-in ouvi de alguém que ele "estava em reforma"! 
     Ousei perguntar: por que só agora, num estado que deu até um Presidente da República? 
     Que se dê ao Maranhão um aeroporto digno. 
     E, por favor, lhe altere o nome, passando a chamá-lo Aeroporto Josué Montello ou Humberto de Campos. Os dois, cada um a seu tempo, horaram e encheram de glória a Atenas brasileira. Não decepcionaram.     
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 02/08/2011
Reeditado em 29/10/2020
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