AO PÉ DA LETRA (EC)
A nega maluca gritava na esquina:
Maldito Tonhão! Me tira a razão!
Um dia lhe dou um tiro na nuca!
Não faça isso! Gabriel retruca.
Mata sim! Sussurrou Coisa-Ruim
Deixa pra depois! Gritou um credor.
Deve uns trocados para mim.
Ai! Se mato! Mas mato sim...
Na minha desgraça eu ponho fim...
Pensa nas crianças! Pediu a vizinha
Cala boca! Toma tua linha!
Ela deve ter tomado uns picos
Enlouqueceu! Chama os milicos
Alô!... Um nove zero!
Urgente! Estamos indo!
Pernas pra que te quero...
Os suspeitos tudo sumindo.
A nega maluca ficou só na esquina:
Vida danada!... Só me arma sinuca.
Mato ele! Gritou pro soldado
Segura ela! Ordenou o sargento
Não me agarra!... Solta minha peruca!
Tenha calma! Qual o "pobrema"?
É o Tonhão! Ta de cacho com Iracema
Só isso! Homem é mesmo assim...
Palpitou um de cabelo pixaim.
Aquele... ! Não xinga! Não xinga!
Balbuciou um mamado de pinga.
Corre-corre na geral.
Solução afinal?... É seu parceiro?
Esse é dela, não é meu não.
Da Iracema... O Mineiro...
Sangue? Revólver na mão!
Vixê!... Mais confusão?
Um grito batuca na nega maluca:
To vingado: Matei ela e o Tonhão.
Choro engasgado...
Você não fez isso, não?
Dois tiros! Um em cada coração!
Cada olhar com seu pavor
Na esquina a nega maluca perdeu a cor.
Peito rasgado de dor...
Correu pela rua, chamando o Tonhão!
Morta de raiva, morria de amor!
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Este texto faz parte do Exercício Literário “A morte e a morte de...”
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