COINCIDÊNCIAS EXISTEM
E CONFIRMAM O TRAÇADO
 DO NOSSO DESTINO



 

 

Meu pai exerceu a profissão de médico por cinquenta anos dedicando-se exclusivamente à hanseníase.  Obviamente, no início de sua carreira  deparou-se com a ‘lepra’ e seus fantasmas. Vez ou outra, eles ainda assombram  esse tempo em que vivemos. Deixou como herança uma postura que estruturou minha vida profissional. Conviveu com a ‘lepra’ e com a hanseníase com a mesma dignidade, importava o ser humano que estava por detrás... Não havia delineado essa sorte para mim. Meu desejo era trabalhar com doenças infecto contagiosas, mas não necessariamente, a hanseníase. Em Taubaté, cidade do interior de São Paulo onde vivi intensamente meus anos prateados, dourados, etc...   concluí a Faculdade de Serviço Social, escolha livre da qual nunca me arrependi. Vim para a capital com o intuito de efetivar minha inscrição num concurso público, mais por curiosidade do que vontade. Já de posse do meu lugar numa alongada fila sou informada da exigência de um documento X. Tendo certeza de que não tinha tal documento e acreditando ser recado do destino desci para tomar um refrigerante e aguardar uma amiga. A partir daí comecei a ficar mais intrigada, pois na busca do dinheiro para efetuar o pagamento,  eis que um papel se desprende de minha carteira. Exatamente o exigido para complementar os demais documentos. O porquê do mesmo estar ali, nunca soube...  Julguei ser outro sutil toque do destino. Imediatamente subi e retomei meu lugar na fila. Fui aprovada na prova escrita, faltava a entrevista. Por incrível que pareça, torcia para que não fosse aceita, gostava do  trabalho na área da tuberculose, onde estava há um ano.  No decorrer da entrevista, a assistente social fez a seguinte pergunta?- “Qual sua preferência?” - “Hospital Emílio Ribas”, respondi de imediato.  – “Você vai trabalhar comigo no Departamento de Hospitais de Dermatologia Sanitária”, afirmou categoricamente. “E também junto às antigas colônias onde vivem doentes de hanseníase internados compulsoriamente, recentemente transformadas em Hospitais de Dermatologia Sanitária”. De imediato insurgiu a lembrança do papel que eu ‘não tinha’ e ‘tinha’ por ocasião da inscrição. Para que continuar teimando? Iniciei minha carreira ‘artística’. A tal ‘assistente social’ da entrevista  transformou-se  na madrinha de minha filha caçula e ocupou um lugar de destaque em minha vida pessoal e profissional. Por inúmeras vezes cruzei com meu pai em reuniões e treinamentos. Uma dupla apaixonada e dinâmica. Há seis anos  assinei meu pedido de aposentadoria. Tive que desistir, os documentos  haviam sido desviados, perdidos ou coisa parecida. Reapareceram após um ano e  oito meses exatamente. Nesse espaço de tempo surgiram algumas situações em que percebi claramente o porquê de ainda estar onde estava. Não havia cumprido totalmente minha missão, algumas arestas deveriam ser facetadas, tanto em relação a mim quanto ao meu pai. No ano passado senti  que  havia completado meu tempo em relação ao que o destino havia prescrito. Aposentei-me, assim como ‘o meu espírito’, ... o que fez com que eu saísse leve, com a sensação de missão cumprida deixando um legado que teve um significado ímpar para mim. Meu pai, um espírito de luz, tenho certeza, continua trabalhando em outra dimensão desde 1990...

 

 

 

 

 

 
heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 17/07/2011
Reeditado em 20/07/2011
Código do texto: T3101077
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