Praça da Sé

As pessoaspassam para lé e para cá. Uns chegando, outros saindo, ainda outros ficando. São expressões e jeitos os mais diversos.

Vejo um deficiente físico tocando um instrumento inventado por ele. Tem ao lado uma lata com algumas moedas. É ali que devem ser depositadas as doações, ou por solidariedade ou pelo reconhecimento do esforço e do talento. Mas vejo passar uma mulher, elegantemente vestida, dos mais belos dotes físicos, e ela nem se dá conta do pedinte.

Vejo senhores de idade avançada, uns em movimentos lentos, carregando placas indicativas de compra de ouro, de fotografia e chapa dos pulmões, e ainda outros parados, sentados em suas pequenas bancas, oferecendo os números da sorte. Por eles passam os office-boys apressados, cheios de juventude e de sonhos.

Vejo nos olhos do rapaz que fala a altos brados, com voz convicta e esperançosa, de braços abertos, em gestos que quase sempre os aponta para o éu, um brilho solitário, distante. além dos limites da razão. à sua volta os pecadores, de olhos postos no chão, meneiam suas cabeças num gesto confirmativo. Ao lado, nos bancos da praça, vejo casais trocando carícias, em atos públicos de amor carnal.

Vejo correrem pela praça os menores abandonados, os pequenos batedores de carteiras. Sei que à noite eles estarão pelos bancos ou na estação do metrô, à procura de um abrigo, ou de uma viagem. E, bem ao lado, vejo uma suntuosa, imponente e gélida catedral.

Mas, apesar de tantos contrastes, é um lugar gostoso, pitoresco, às vezes até divertido. e o barulho que faz aquele animalzinho dentro de uma caixa de papelão, quando o homem tenta domá-lo? Ah, não há quem não pare pra ver. E se você quer se divertir, basta misturar-se aos camelôs. Por vezes você se diverte, por outras você os diverte, e assim vai.

Experimente ficar, num domingo de manhã, sentado nas escadarias da igreja. Você vai perceber que as pessoas ficam ali paradas até que chegue uma outra. O relógio é outro ponto de encontros. as pessoas ora consultam os seus relógios, ora o da praça, apreensivas, até que chegam as visitas. Dão-se as mãos, cumprimentam-se, cada um ao seu estilo ou ao seu caso, abrem-se em sorrisos e vão embora.

Logo ali em frente há dois repentistas. Que arte linda, não? a capacidade de memorização, a criatividade e a fluência poética dos versos rimados me remetem aos poetas da antiga Grécia, que cantavam as façanhas de seu povo.

Logo mis à frente já se formou uma roda de capoeira. Bate pandeiro, soa o som o berimbau, giram os corpos em movimentos acrobáticos. Não, não é uma luta, é uma dança, um ritual. Tudo isso é taão Brasil...

Bem (consulto o meu relógio e o da praça), já se passaram duas horas. será que ela não vem?

Rogemar Santos
Enviado por Rogemar Santos em 09/07/2011
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