TUDO NO SEU DEVIDO TEMPO

Das coisas que não sinto, nem posso. Pois que poderei – e assim não somente a vida, mas também os antepassados dos antepassados diziam – apenas por aquilo que me deixará alguma saudade: poderei falar mal ou bem, poderei nem falar, mas tenho certeza: daquilo que me aconteceu.

Ontem – poderia ter sido qualquer dia – decidi que a saudade não fará conta dos acontecidos por exclusividade: se acontece de ser saudade, precisará ser precipitada sempre. No fundo, eu desejo ser eterno.

Já imaginei, vendo à frente, que um número sensível de pessoas dará falta da minha palavra no decorrer do dia, mesmo que por apenas algum insólito momento. O meu desejo é contra o tempo.

Ocorre que as coisas, por aqui, duram um bocado de gente. E como demora! Taí um sentimento exigido por mim, mas com tamanha continência: o paciente! Nem consigo guardá-lo... Pudera... Paciência para quê? Entenda mundo:

– o meu negócio é contra o tempo!

Por isso não aprendi a escrever poesias, tampouco sei determinar se isto que escrevo merece ser tratado por crônica ou conto. Acontece (o tempo todo!) da coisa ser aguda, e se conto, conto o que não me convém, perceba você mesma, pessoa que lê, o que significa viver da palavra alheia: escultura de uma aléia envelhecida em uma mão, e a necessidade de encaixá-la numa caixa de fósforos com a outra.

Dizem que nem assim funciona. Imagine então, você: pessoa que lê, o que é escrever sendo apenas mais um que lê! Pois é: é disso que eu vivo, colho sentimentos, que obviamente são meus. Seria mais preciso, em meu sonho de eterno, que tivesse eu a pachorra de sedimentar nos outros a sensação que então foi minha: daí por diante, colecionarei sentimentos do mundo!

Preciso deter o tempo. Alguma contra-mola? A ripa que da ré? Pensei numa alavanca, mas os gregos me dissuadiram. Tentei (não de fato) uma arma química, mas o Google me impediu.

O passado que se baste: eu preciso ser gigante! O presente que se sirva: minha vontade então se cumpre! Mas o futuro, à vontade. Quem não sabe que é inofensivo estar distante?

É bem verdade: se o que sinto, não estou. E daí? Coloco nas palavras o que a coragem, enfim, permite. E de autorizo em me arrisco, vou furando a página do tempo de cada um que se atreva a ler o que as destemidas vontades tiram dos meus dedos.

Ando digitando mais do que manuscrevendo. Por isso os gerúndios nas colocações. E apenas com os indicadores: por conta disso, o atraso.

Sabe as palavras angustiadas que falam nada, mas criam aquela a expectativa? Aqui, nada teremos de beleza. Nem sei por que acordei confinado na escrita.

Muito descaro de minha parte: levanto e acho que trago o dia em catarse numa folha de papel. Que não é bem papel, inclusive, nada papel, talvez uma folha – sinta o termo como não é! – por se tratar de uma página. Virtual. Coisa que todos os sentimentos são.

Eu sei que das coisas que nem sinto, não posso. Mas, poder à parte, tente ler este texto de trás para frente, tente não sentir raiva disso.

E a tal da cordialidade: muito obrigado por me entregar o seu tempo.