A SAGA DE UMA INJUSTIÇA

Baltazar, um jovem funcionário da Santa casa de Misericórdia de São Paulo, jamais imaginava ser vítima de uma injustiça tão abrupta, após uma atitude arrogante impetrada por um assistente social. O escriturário em questão já sabia que o tal Siqueira era cheio de querer ser o dono daquele nosocômio. Só que, pensando bem, era um grande frustrado. Além de temperamental, usava dois pesos, duas medidas quando atendia aqueles doentes com os seus respectivos acompanhantes. Na ausência do supervisor daquele setor, ele fazia de tludo para aparecer, querendo demonstrar uma autoridade que não tinha. Vivia procurando cabelo em ovo. E foi num dia assim que ele cometeu um ato arrogante, traindo o seu colega de trabalho.

O escriturário Baltazar atendia normalmente, sem saber que o tal Siqueira se encontrava numa sala contígua, jogando conversa fora com enfermeiros ou médicos residentes. Neste ínterim, uma senhora que trabalhava como voluntária num bazar beneficente dentro daquele hospital foi pedir um favor a um médico, em prol de um parente. O assistente social metido e antipático intrometeu-se no assunto e foi logo fazendo uma pré-triagem, a fim de saber se a paciente tinha algumdireito previdenciário ou convênio médico. Tanto pesquisou que, para impressionar ao médico, descobriu que o marido daquela senhora trabalhava registrado e antes que o médico falasse alguma coisa, já descartou logo qualquer hipótese dela ser atendida ali na Santa Casa. E continuou batendo papo.

Enquanto isto, logo a seguir, a mesma voluntária e paciente adentraram na sala do Baltazar, que a estas alturas nada sabia do que ocorrera na sala ao lado e pediu que ele autorizasse a matrícula só para aquele atendimento médico. Como ele achou que era um caso corriqueiro, tranquilamente atendeu o pedido daquela voluntária, autorizando a matrícula. Atitude esta que todos ali agiam sempre que aparecia alguém numa situação idêntica, inclusive o dito cujo do Siqueira, o qual se negou a abrir aquela exceção só porque estava na presença de médicos e enfermeiros.

Resultado: não demorou meia hora, ao tomar conhecimento que aquela voluntária tinha conseguido uma matrícula, sentindo-se rebaixado, se apoderou do referido cartão daquela paciente e ao invés de conversar primeiramente com o colega Baltazar, saiu soltando fumaça e saltando nos cascos, passando inclusive por cima da autoridade do supervisou geral, dirigindo-se com petulância e atrevimente à sala da superintendente da Santa Casa, exigindo uma punição máxima para a insubordinação daquele caso. Adivinha o que fez aquela senhora! No mesmo instante assinou a demissão por justa causa do funcionário Baltazar, o qual iria completar quatro anos de trabalho naquele hospital.

Em meio ao susto deste ato injusto e burocrático, imediatamente a vítima, o funcionário demitido, pediu à mesma senhora voluntária, pivô daquele imbróglio, que fosse testemunha do fato ocorrido. Mas esta não deu a mínima atenção ao pedido feito por alguém que acabara de lhe fazer um favor e a sua resposta foi curta e grossa:

-"Não conte comigo para esse assunto!"

E o resultado não foi outro. Baltazar perdeu o emprego e só restou uma grande lição:

"Se sofres injustiças, cala-te; a verdadeira desgraça é cometê-las!"

João Bosco de Andrade Araújo

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 24/06/2011
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