QUER SE CONHECER, E AOS OUTROS?

Criada por Sócrates no século IV a.C., a maiêutica é o conteúdo máximo da expressão da verdade na investigação filosófica, independente do objeto. É o encontro da consciência dialética com a verdade, sendo difícil sua interlocução simplista, por ter origem na verdade interior.

Daí a dificuldade em situar a maiêutica na sua real dimensão.

Antes da maiêutica operar certezas universais, temos de ser verdadeiros em nossa realidade existencial e interior.

O “nosce te ipsum” socrático – “conhece-te a ti mesmo”, se a isto se dedica o ser humano e assim persevera, na procura e no encontro das verdades universais, caminho para a prática do bem e da virtude, onde o orgulho e a mentira não têm assento, e a humildade se faz alicerce - proporciona a saída do desconhecimento para o conhecimento, coisa que poucos conseguem, ainda que ao alcance das mãos, por força da pretensão, que traz sombras para ignaros.

Cristo, Senhor da Verdade, covardemente morto pela inveja de Caifás e sua turba, que até hoje sofre pelo homicídio histórico cometido, perguntado o que era a verdade silenciou, buscava a justiça que a pretensão desconhece.

A maiêutica é dialética dogmática de interlocução-interrogativa multiplicada.

Com sentimentos como orgulho e humildade, valores como mentira e verdade, por exemplo, contrafeitos que são, pode ser exercitada a maiêutica, na busca de identificar realidades objetivas pessoais.

Na multiplicação de indagações para um interlocutor, extrairemos suas verdades contrapostas as suas mentiras. Por esta razão dá-se o impasse filosófico, poucos conhecem sua própria verdade ou não a admitem.

Verdades de uns são mentiras de outros e não as resolve a maiêutica, apenas identifica e expõe a realidade.

Maiêutica é verdade de um humilde, que contrariando o orgulho, vivia de esmolas e alijou a soberba, coisa para poucos; Sócrates.

A mecânica maiêutica, seu método, consiste em perguntas a um interlocutor, na busca da verdade, colocado o objeto, vencida a mentira. Pode se alongar muito, sendo reveladora filosoficamente e puro realismo, verdade universal.

A maiêutica deságua em axiomas intransponíveis, verdades universais que são seu objetivo primeiro. Verdades maiêuticas não têm conceito de verdade distorcida, nem são opiniosas como: a minha verdade, a verdade de terceiro e a verdade verdadeira, absoluta. Esta, a absoluta, é a verdade universal que a maiêutica pode revelar a quem achou seu interior forrado de lei moral, nunca a quem na vida perdeu a identidade, vivendo sob o pálio da irrealidade em ser, como tanto se vê.

O interior é o vestíbulo da maiêutica; ser verdadeiro com sua realidade e, em conseqüência com terceiros, verdade pessoal ou com o objeto discutido, primeiro passo do método.

A maiêutica exclui a inverdade frente à verdade, como o orgulho se opõe à humildade, pois aquele nunca desce de onde sobe, porque sempre cai de onde subiu, e esta é sempre altaneira.

A maiêutica nos envia ao “conhece-te a ti mesmo”, revela nossos dons, faculdades ou não, condutas em geral, nos limites delegados pela natureza e assumidos ou que devemos assumir.

Sócrates, sem escrever uma palavra, como Cristo, este o Homem-Deus, aquele o sábio, nos deixou a dialética que ocorre em duas fases, a ironia e a maiêutica.

A ironia tem como mecânica investigativa perguntar, como a fingir desconhecer o tema, alcançando a dúvida fictícia sob método preciso, com intuito de expor a verdade de cada um.

Como por exemplo, na oposição entre orgulho e humildade, e na verdade com a mentira:

A mentira traz conhecimento? A mentira faz feliz? A mentira realiza a estima pessoal? Há reconhecimento sem estima? É feliz o mentiroso? Mente o mentiroso por não se sentir realizado? Ou se realiza o mentiroso pela mentira? Se por ela se realiza, qual o motivo em mentir? Por ela, pela mentira, se alcança algum reconhecimento?

A maiêutica de Sócrates leva o inquirido a descobrir aos poucos o conhecimento sobre o objeto de discussão.

A maiêutica, como dizia Sócrates, era “o parto espiritual”, o que referia por ser sua mãe parteira.

Evitando polêmicas, construiu o método dialético, quando se tratava de um opositor ou de um aluno a ilustrar, instruir.

Conduzia-se humildemente como quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo, ou embargá-lo no silêncio confessional.

Esta a “ironiasocrática”, seguida de obter do próprio opositor-vencido, por indução, em casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do tema em questão.

Nominou este seguimento dialético de maiêutica ou “sofisticada-obstetrícia” do espírito, que trazia o parto das idéias.

A introspecção é o grande caminho que nos leva ao “conhece-te a ti mesmo”, ou seja, “ torna-te consciente de tua ignorância”, como sendo o ápice da sabedoria, finalidade maior da ciência mediante a virtude, independente do parto de extrair de alguém suas verdades através da maiêutica.

Era a aura do sábio personificada na voz interior divina do gênio ou demônio.

De Sócrates, de seus ensinamentos reportados, devemos a seus dois discípulos maiores, Xenofonte e Platão.

Xenofonte, nos trazendo “Anábase, em seus Ditos Memoráveis”, discurso moral da doutrina do mestre.

Platão, filósofo gigante ao extremo para nos reportar real retrato histórico de Sócrates; é difícil distinguir a linha socrática das especulações críticas acrescentadas por ele. Mas foi o historiador do pensamento de Sócrates.

"Conhece-te a ti mesmo" – a máxima em que Sócrates sustenta toda sua jornada da vida de sábio, absorve de forma singular a maiêutica.

Sem ter escrito, Sócrates emitiu frases de homem sábio, que se conservaram na memória de todos, inclusive do povo, como:

- Quantas coisas das quais não tenho necessidade! Dizia quando no mercado vendo objetos, nos remetendo à voracidade capitalista e ao consumismo, ou e melhor para todos meditarem, principalmente os políticos:

- A prata e a púrpura são úteis para o teatro, porém inúteis para a vida"

Quantos fazem da vida um teatro e pensam usufruir de prata e púrpura, ou seja, riqueza e poder, quando elas estão na realidade, no nosso interior, no “Conhece-te a ti mesmo”, longe da mentira e da pretensão ignara e cômica, que só o bufão-mentiroso não percebe.

Sob esse aspecto, sociedade capitalista-consumista, é bom que se coloque como quer a filosofia coisas simples, para meditação interrogativa, como: Quando compramos o que não usamos ou precisamos, a demasia ou o supérfluo, estamos comprando necessidade ou desejo?

Quando pensamos ser o que não somos, não há como ser o que precisamos ser para ser pessoa.

"CONHECE-TE A TI MESMO".

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 15/06/2011
Reeditado em 16/06/2011
Código do texto: T3037522
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