DONA AUGUSTA, A NOSSA AVÓ !
Mais precisamente, Augusta Maciel Vidigal, o nome de minha avó materna. Não irei escrever a sua biografia, pois a mesma foi escrita, minuciosamente, por seu filho, historiador e genealogista Padre Pedro Maciel Vidigal. No segundo casamento, com o meu avô Feliciano Duarte Vidigal, teve 05 filhos: Letícia, Celina, Maria da Conceição (Cici), minha mãe, Gastão e Padre Pedro.
A sua casa era onde se localiza hoje a Escola Pe. Vicente de Carvalho. Era uma verdadeira chácara. Ía da Rua São José até a Rua do Cruzeiro, com todo o quintal cercado por braúnas. No quintal, eram cultivadas várias frutas: laranja ,lima, manga, abacaxi, pitanga, mamão, pêssego, etc. Ao lado da casa, havia uma horta muito bem cuidada por ela e por sua afilhada Marciana, que com ela morava.
Na fazenda Baía onde morávamos, aprendíamos com a minha mãe, D. Cici, as primeiras letras e, a partir daí, íamos para Calambau frequentar as Escolas Reunidas Cônego Francisco Lopes. Os mais novos frequentaram o Grupo Escolar Governador Clóvis Salgado. No período escolar ficávamos na casa da Vó Augusta. Eu fui o primeiro a ir. Quando lá cheguei, como tinha medo de dormir em um quarto sozinho, fui dormir em seu quarto . Lá, também, dormia um outro neto da Vó Augusta, o Juca da Tia Letícia, que morava ao lado de sua casa . Ela gostava muito dos netos, não só os que moravam próximos como nós e os filhos da tia Letícia, como também os filhos dos tios Gastão e Otília, Clóvis e Hilarina.
A minha avó, por ter estudado no Colégio Providência , de Mariana, talvez o melhor de Minas na época, era uma das mulheres mais cultas de Calambau. Recebia jornal do Rio (Tribuna da Imprensa) e de Belo Horizonte ( O Diário) e outros jornais e revistas católicas. Foi por muito tempo Agente dos Correios e depois que se aposentou, o cômodo onde funcionava a Agência transformou-se em quarto dos doces e quitandas. Até hoje ainda sinto o cheiro daquele “delicioso” quarto onde eram guardados os bolos, broas, biscoitos, quecas, roscas e os doces de cidra e figos em calda, canudos, cocadas, etc. E os famosos biscoitos de polvilho da Dona Augusta? Todos da família e também os mais antigos calambauenses lembram-se deles com saudade...
No Colégio Providência aprendeu a tocar piano e ela dizia que na prova final do curso executara a peça Lucrécia Borges da Ópera de Donizetti. Foi dela que ouvimos pela primeira vez estes nomes. Aprendemos com ela, também, algumas palavras em francês.
Como gostava muito de política local e nacional, comentava com o seu primo Quinca Maciel os acontecimentos políticos da época. Além dos jornais buscava informações através do rádio, sendo os seus programas favoritos: Panorama Político (Rádio Mayrink Veiga) e a Hora do Brasil. Gostava muito do Getulio Vargas e na mesa de seu quarto tinha um “getulinho”, um boneco com o rosto do Getúlio que sempre ficava de pé, por mais que quiséssemos deitá-lo ( o João teimoso).
A política local naquele tempo já era muito acirrada: um menino engraxate, filho de um adversário político escreveu na sola do sapato da minha avó as iniciais do partido de seu Pai. A D. Augusta não deixou por menos. Chamou o pai do menino e deu-lhe os parabéns pela brilhante idéia de seu filho: colocar a sigla do partido no local onde ele merecia estar, na sola de seu sapato...Ela era enérgica, porém bondosa e justa.
Era muito estimada e respeitada na comunidade onde tinha vários afilhados de batismo, crisma e casamento.
Em uma época que não existia médicos em Calambau ela dedicava-se à homeopatia e fazia o seu receituário para a população.
Por tudo o que a Vovó Augusta fez por nós, pela comunidade e por seu amor à cultura, nós, os seus descendentes, nos sentimos muito orgulhosos dela. E esse orgulho aumenta mais quando ouvimos alunos da cidade de Nova Era dizerem que estudam no “Augusta” pois lá, em homenagem a seu filho Pedro Maciel Vidigal que construiu um lindo prédio escolar, os novaerenses deram a essa escola o nome: Escola Estadual Augusta Maciel Vidigal.
A nossa avó Augusta era muito religiosa, participava dos movimentos religiosos da paróquia e transmitiu a sua fé a todos os seus descendentes.
Por tudo isso, nos orgulhamos de nossa avó Dona Augusta!
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Murilo Vidigal Carneiro - Calambau, 26 de maio de 2011