Máquina Copiadora

Cada coisinha besta e que avilta cada moléculazinha do meu corpo! Estou diante desta monstruosidade de máquina copiadora, scanner, etc. Fui incumbido de tirar cópia de três capítulos de um livro de Leasing. Em outras palavras: 127 páginas de pura ladainha enfadonha. Trouxe até a lata de lixo pra ficar aqui do meu ladinho e estou me sentindo péssimo vendo esse monte de folhas desperdiçadas. O livro tem que ficar milimetricamente acertado sob a tampa do scanner, senão corta o número da página ou o final do texto. E eu tenho que tirar frente e verso. Já perdi a conta de quantas vezes eu quis chutar essa coisinha linda que custa a soma de dez salários - antes dos descontos - meus. O livro está ficando feio de tanto ser escancarado, escangalhado e amassado; as folhas já não estão mais tão branquinhas, estão ficando vincadas e amassadas e com aquela aparência de compensado depois de três dias de chuva - e tudo isso em vão. Parece que é algum teste de paciência. Eu até tentei salvar a minha paciência e fui até uma gráfica renomada daqui das redondezas e sabe o que me disseram? "Não tiramos cópia quando têm direitos autorais". É mole? Isso porque centralizado no topo da página está o nome do livro. Além do mais, preciso de um determinado trecho do livro, e não dele inteiro. Mas vá lá, falar isso pro dono mal-humorado da gráfica... Saí de finininho, cara, e agora fico aqui, me sentindo péssimo diante de tanta folha de sulfite desperdiçada, bebendo um copo de café atrás do outro - a sorte é que a garrafa térmica fica na salinha ao lado - e tentando entender como algo que não possui cérebro - e todas as possibilidades a ele inerentes, tais como: consciência, ódio, sadismo, etc - parece estar adorando me sacanear. Olha, olha isso: consegui tirar uma cópia impecável das páginas 120-121, mas na hora de tirar o verso (relativo às páginas 122-123), cortou uma boa parte do canto esquerdo da página 122 e o texto ficou danificado. Deve ser a vigésima oitava vez que isso acontece nas últimas duas horas e eu já estou ficando tentado a chutar o pau da barraca. Que droga isso de ter que ficar copiando! Será que não vêem o desperdício que as tentativas falhas causam? Não custa mais barato fazer algo idôneo, ORIGINAL? Que contentamento é esse com cópias xerocadas em preto e branco apagadíssimas? Não vêem que o sem-cor é insosso? Não vêem o que a tentativa das cópias causa no que está sendo copiado? Olha, até fiquei bravo com o cara da gráfica que respeitou os direitos autorais, mas, pense; isso sim é que é um trabalho honesto, digno; não se deixou corromper, não se deixou vender por qualquer meia-barganha oferecida. Entende? Preferiu manter um nome, a dignidade, a negociar um centavinho qualquer pra cerveja no final do expediente! Ah, esse cabra da gráfica! Que exemplo! Que ORIGINALIDADE a dele, ser cândido neste monturo de cidade! Mas, que faço eu, com essa MÁQUINA COPIADORA que NÃO CONSEGUE TIRAR CÓPIAS DECENTES? Cuspindo detritos do que um dia foi belo por puro e mórbido bel-prazer. Que lástima, essa, a minha... que triste incumbência essa que me deram... Vou tomar outro copo de café e pensar em um jeito de acabar com isso de uma vez por todas...

17/05/2011 - 02h31m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 17/05/2011
Reeditado em 17/05/2011
Código do texto: T2974970
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