057 – ALARME DE CARRO DE POBRE...

Tenho um grande amigo, pessoa simples, humilde, trabalhadora, funcionário dos Correios, que após muita luta e sacrifício conseguiu comprar seu primeiro carro...

Um Corcel – II – cor branca, que se transformou em seu xodó, em seu grande amor, lavava e encerava todos os finais de semana, o carro era tão bem cuidado, tão bem polido que lhe deram o apelido de garça branca.

E a garça branca passou a ser a sua maior preocupação, em um final de semana o ladrão roubou o carro do seu vizinho da esquerda, e em outro final de semana voltou a roubar, roubou o carro do vizinho da direita, nosso amigo extremamente nervoso a todos dizia que na certa a próxima vítima do ladrão seria ele.

Finais de semana não conseguia pregar o olho, ao menor barulho acendia as luzes externas da casa, abria silenciosamente a janela, alarme falso, a garça branca estava na garagem, voltava pra cama, mas quem disse que ele conseguia dormir!

Aquela preocupação com o carro estava deixando ele maluco, agoniado, só falava no ladrão, conseguiu um revolver calibre trinta e oito emprestado, seis balas no tambor, que ficava de prontidão em cima do criado mudo ao seu lado, mas o ladrão muito esperto não se mostrava, na certa na moita aguardava uma melhor oportunidade.

Já não confiava nem nele e nem no revolver, os vizinhos tinham revolver e de nada adiantou, passou a bolar uma alarme que fosse infalível.

Dias e dias matutando, engenhando, rabiscando, construindo um alarme que fosse simples, barato, mas eficiente.

De repente teve aquele estalo na mente, próprio dos grandes inventores, desesperadamente procurou na vizinhança por latas vazias que quanto mais amassadas, melhores, após recolher mais de meia dúzia dessas latas foi amarrando uma na outra até formar um belo cacho e as colocou em cima do guarda roupa do seu quarto, na traia de pesca encontrou uma linha de naylon bem grossa.

Ah! Vejam que criatividade!

O corcel na garagem, anoitecido, uma ponta da linha amarrou e bem amarrado no pára-choque dianteiro do carro e pela casa foi esticando a linha até chegar ao seu quarto, lá chegando amarrou a outra ponta da linha naquele cacho de latas velhas perigosamente equilibradas sobre o seu guarda roupa.

Fez vários testes, tensionou a linha de tal forma que bastava aluir alguns centímetros o carro, que aquele monte de latas caia lá de cima do guarda roupa, estrondando toda a casa.

Bem!

Hoje já é noite, sexta feira, é o dia da desgraça, ou melhor, é o dia que o ladrão sempre rouba, garça branca na garagem, alarme ligado, ou melhor amarrado, revolver sobre o criado mudo, e o nosso amigo não conseguia dormir, o ladrão era mais esperto que se imaginava não aparecia, alta madrugada quando nosso amigo desmaiou de cansaço de tanto esperar, e foi aí que tudo que tinha que acontecer aconteceu.

O monte de lata caiu lá de cima do guarda roupa estrondando toda a casa, nosso amigo acordando ainda um tanto atordoado no desespero de roubado, pegando o revolver para o alto foi atirando, sua casa ainda não era lajotada, e a cada tiro voavam telhas para todos os lados, quando acabou a munição havia um imenso buraco no telhado por onde o sol enfiou a sua claridade, tinham perdido a hora e de mansinho abrindo a porta da frente da casa, foi quando se deparou com a vizinha, um velhinha, que toda trêmula gaguejou:

- Pelo amor de Deus, se acalme, só vim buscar um copinho de açúcar emprestado para fazer um cafezinho e por favor me ajuda a livrar as minhas canelas que estão enroscadas nesta maldita linha!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 14/05/2011
Reeditado em 09/05/2013
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