Diazinho Ruim do Caralho

Não cheguei atrasado e demorei bem menos tempo do que o normal pra chegar no trabalho. Senti que seria um dia bom. Mas aí, começou a acontecer algo.

Fiquei meia hora na fila do banco 1 pra fazer um saque. Quando fui chamado, constatei que o cheque não estava assinado.

Havia apenas dois velhinhos na hora que cheguei. Cinco minutos depois, chegaram uns oito. E todos os caixas viraram preferenciais. Fiquei vinte minutos na fila do banco 2.

No banco 3 eu fiquei só quinze minutos na fila. Na sexta-feira a caixa fez um depósito com um dígito a mais e eu precisava pegar o comprovante do acerto. Mas a gerente não estava. Era a quarta vez que eu passava lá e a gerente não estava. Fiquei quinze minutos só pra ela me dar essa informação.

No dia 20 de abril, véspera de feriado, eu puxei aquele trocinho que é usado na obturação dos dentes. É tipo um algodão meio diferente (se algum dentista aí me ler, me passe o nome dessa porra pra eu corrigir depois) que estava preto e com um fedor de mil cadáveres fresquinhos. Como é de praxe, começou a sangrar e o dente ficou aberto. Como é sabido, dia 21 de abril foi feriado nacional. Dia 22 foi feriado também, e também foi meu aniversário. Dia que também venceu o plano odontológico o qual eu era dependente da minha mãe. Neste domingo que passou, dia 08 de maio, entrou um amendoim no dente. Se alojou direitinho e ficou tão bem quanto uma obturação. Hoje ele caiu do nada e me fez cuspir sangue em plena Avenida Paulista em horário comercial.

Escrevi uma poesia bacana no restaurante, enquanto esperava a comida chegar. Na última meia hora do almoço, eu passei-a (ou "a passei"?) pro computador e dei uma lapidada genial e deixei um final aberto, para ser visto depois. Não me lembro bem como aconteceu, mas salvei-a (ou "a salvei"?), apaguei e redigi uma frase besta qualquer e deixei lá.

Dei uma geral no almoxarifado. Coisas de dois ou três anos atrás guardadas. E meu nariz escorrendo. Poeira. Nariz escorrendo. Contagem de post-it, marca-texto, lápis (nariz escorrendo), borracha, extratores de grampos (nariz escorrendo), resmas, envelopes plásticos (nariz escorrendo), pastas AZ (nariz escorrendo), borracha, corretivo líquido (nariz escorrendo), canetas, elásticos, apontadores (nariz escorrendo).

Nariz escorrendo.

Nariz escorrendo.

Nariz escorrendo.

Nariz escorrendo.

Nariz escorrendo.

Nariz escorrendo.

Nariz escorrendo.

Boca sangrando.

Boca sangrando.

Boca sangrando.

Boca sangrando.

Boca sangrando.

Sono.

Sono.

Sono.

Sono.

Sono.

Coceira no cu.

Ardor no pé.

Dor nas costas.

Dente sangrando.

Gosto ruim na boca.

Nariz escorrendo.

Minha mãe me liga e pede a senha do computador. Hesito em passar. Eu sempre hesito, pois toda vez que eu passo, acontece alguma desgraça. Mas passei. Ela me informa que está de atestado por dois dias. Ótimo! Eu havia mesmo combinado de passar no shopping em ótima companhia e comprar o presente de Dia das Mãs pra ela. Passei a senha. Eu já estava atrasado. Mas precisava terminar o almoxarifado.

Envelopes de cartas e nariz escorrendo. Cartões de visita antigos e nariz escorrendo. Caixa de lâmpada caindo na cabeça e espirros. Terminei tudo. Dois sacos tamanho família de coisa inútil pro lixo.

Mijei e escovei os dentes. Cuspindo sangue. Lavei o rosto. Peidei um pouco. Arrumei minha mesa. Minha mochila. Peguei meus cartões. Desliguei o computador.

Daí lembrei da poesia. Tinha ficado de terminá-la em casa. Tornei a ligar o computador. Manda-la-ia (mesóclise errônea, suponho) por e-mail ou salvá-la-ia (idem ao parêntese anterior) nos rascunhos do Recanto das Letras mesmo.

Mas a poesia não estava lá.

Não estava.

Estava só a frase besta.

Quis morrer uma, duas, três, cinco e oitenta e oito vezes por ser tão burro!

Saí de lá, querendo cuspir fogo, mas só tinha sangue pra cuspir.

Cheguei 10 minutos adiantado. Fiquei meia hora esperando na porta do shopping. Minha companheira ficou uma hora me esperando na catraca do metrô. Falha de comunicação e mau humor mútuo.

Comprei o presente da mamãe e cheguei em casa às onze da noite. Ela gostou. Tá usufruindo dele, ali, agora. Um edredom bem bonito. "Adorei o presente".

Pena que eu não pude dizer o mesmo...

Já que, ao passar a senha do computador, algum desgraçado que parece não perceber que tem um CU pra enfiar o dedo e cheirar quando não se tem o que fazer, desconfigurou a internet. Minha mãe ligou na Telefônica e foi impelida a assinar um outro provedor.

Passei mais de uma hora no telefone com um atendente do Speedy pra conseguir resolver o problema.

Uma hora que eu poderia ter gasto com sono.

Ou enfiando o dedo no cu e cheirando.

Qualquer coisa.

E eu ainda omiti muita coisa dessa epopéia urbana dos infernos.

Deve ser por isso que gosto tanto do "Especialmente nas terças-feiras" do Guilherme Sakuma...

Diazinho RUIM do caralho, viu!

E, claro, há uma certa exceção e não preciso nem elucidar qual, não é?

11/05/2011 - 00h30m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 11/05/2011
Reeditado em 11/05/2011
Código do texto: T2962387
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