MÃOS VAZIAS

Confesso que esta crônica não é de minha autoria, inclusive nem sei quem é o mentor intelectual desta belíssima lição de vida.

Conta-se que havia uma rainha. Esta andava vestida de forma glamurosa, esplêndida, toda ornada de joias preciossímas. Tinha criados, súditos e guardas à seu bel prazer, à sua disposição, à seu serviço.

Certa feita, a rainha, já em idade avançada, parou. Pensou, pensou, refletiu, refletiu e instintivamente chamou seus serviçais e deu-lhes uma ordem imperativa, audaciosa ,e, porque não dizer, atípica.

Ela ordenou que confeccionassem seu caixão!

Sim, aquela celebridade, aquela rainha já idosa, gozando de plena saúde física e mental, reivindica, num rompante, de sopetão, que lhes confeccionem seu caixao.

Até aí nada demais, apenas mais um capricho da rainha, e, como tal, deveria ser cumprido sem questioinamentos, afinal ela era uma autoridade.

Quando seus súditos iniciaram a obra de confecção do caixão da rainha, esta surpreendeu-os novamente, e desta feita, mais audaciosamente ainda, pois acrescentou:

- Olha, eu quero que no meu caixão, tenha dois buracos, ou melhor, duas aberturas nas laterais, de maneira que as minhas mãos possam ficar em evidência, ou seja, fiquem à mostra. Quero que todos vejam as minhas mãos! Minhas mãos devem ficar à mostra no meu funeral!

Seus serviçais continuaram o empreendimento, a obra, mas ficaram intrigados entre si, especulavam, queriam saber o porquê daquele desejo de um modelo de caixão totalmente diferente dos demais.

Um destemido súdito, ousou em ser porta-voz dos demais, pediu licença à rainha e questionou-a:

- Nobre rainha, perdão pela minha ousadia, minha intromissão, pois sei que sou apenas um mero súdito de vossa magestade, mas tanto eu, quanto meus companheiros de labor, estamos muito intrigados e curiosos em saber o real motivo da senhora nos ordenar a fazermos seu caixão de maneira tão atípica, tão diferente dos demais que já confecionamos em toda a nossa vida.

Daí, a rainha sorri sábia e docemente e afirma:

- É que eu quero deixar uma reflexão para a humanidade.

Quero mostrar que, com toda a minha glória, com toda a minha riqueza, com toda a minha pompa magestosa, com todas as minhas aquisições materiais conquistadas em vida, eu estou partindo para a eternidade de MÃOS VAZIAS!

- Não estou levando nada!