Páscoa movida a amor
Depois de casados era a primeira vez que ficavam separados por tanto tempo. Entretanto, o retorno ao Rio não saíra como haviam planejado.
Quando foram de mudança para a pequena cidade no Rio Grande do Sul, estavam com uma filha de quatro meses e pouco mais de um ano de casados.
Iam juntos conquistar seu espaço e iniciar uma nova experiência de vida. Experiência que os unira ainda mais.
Agora, após dois anos, voltavam trazendo ao colo mais uma filha: Gaucha, com muito orgulho!
Haviam combinado de que ele traria a família na frente; regressando em seguida para despachar a mudança, enquanto se concretizava a transferência.
Estava tudo programado. Não seria mais do que quinze dias de separação para estarem novamente juntos.
Entretanto, imprevistos acontecem: O colega que iria substituí-lo adoeceu inesperadamente e não havia outro que ocupasse seu lugar. Teria que aguarda novo substituto. A informação era de que demoraria uns 20 dias. Parecia razoável.
Cabe aqui um esclarecimento: Naquela época, por volta dos anos sessenta, as comunicações eram precárias. Os telefones eram raros, e completar uma ligação demorava horas. A correspondência levava dias e dias.
Para notícias mais rápidas, só com auxilio de Radio Amador; que sempre prestavam grande serviço.
Os vinte dias se passaram e nada se resolvia, A concessão de desligamento era adiada semana após semana. Um mês... Dois meses... Três meses... E nada.
A preocupação era imensa. E a saudade ainda maior!!!
A Páscoa se aproximava.
Será que na Páscoa, finalmente estariam juntos? A pergunta pairava no ar.
Havia esperança, mas não certeza.
Para esperá-lo, ela comprou um novo vestido, separou a camisola de seda que usara na primeira noite de casada, comprou toalha de mesa florida que tornaria a ceia de Páscoa mais festiva... E contou os dias que faltavam para reencontrá-lo.
A Páscoa chegou... E junto com ela um telegrama cheio de amargura: “Minha vida só tristeza separado de meus amores. Teremos que aguardar mais uns dias"
Ela dobrou o telegrama. Enxugou as lagrimas. Abraçou as filhas, ainda tão pequeninas... Retirou o vestido novo... Guardou a camisola de seda... Tirou a toalha florida da mesa... E disse: “ Este ano nossa Páscoa será comemorada na próxima semana”
E assim... Na semana seguinte... Como na Valsinha de Chico Buarque:
Aconteceu uma Páscoa movida a amor (...)Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar(...)
Páscoa que nunca seria esquecida!
Feliz Páscoa a todos... com muito amor em cada coração!
Lisyt