Morte do Editor J. C. Tiburski
Em memória de João Carlos Tiburski
Faz poucos dias que perguntei ao Gelson Radaelli pelo Tiburski através do Facebook. Fiquei sem resposta. Hoje, dia 18 de abril de 2011, abri o jornalão e a notícia me pegou de surpresa. Morreu num domingo aos 61 anos na barragem do Capingui. Homem de grande energia da alma. Lembro-me das lições que aprendi com o mestre: “um tirano sabe quem deve oprimir”. Eu era um dos poucos que conseguia mantê-lo tranquilo durante o expediente. Sanguineo e voltaireano, naquela época fumante inveterado, mas sem culpa. Naquele tempo...
Lá pelos idos do Jornal Trinta Dias de Cultura e O Continente ele me recebeu na redação com espanto. Um jovem chegado do extremo sul do país, desempregado e ex-colaborador do Pasquim-Sul. Imediatamente abriu uma janela para a prática da charge onde publiquei durante dois anos. Foi no jornal Trinta Dias de Cultura que passei a ir todos os dias ao trabalho, mesmo o salário sendo menor do que o do Professor Raimundo da escolinha. Tiburski era o editor dos dois jornais que pertenciam ao Governo do Estado através da Secretaria de Estado da Cultura. Época de cachorro quente, mas não faltava entusiasmo, alegria, vontade de trabalhar. Escrevia, desenhava, corrigia, procurava na rua material para publicação, dobrava jornais, etiquetava e levava de ônibus os originais até a CORAG. Jornal quentinho, vinte e cinco mil exemplares. Pura felicidade. Cada edição nos dava muita alegria. Tipo de alegria que só a imprensa feita de papel sente, concretizada. Era uma equipe unida, bonita, e tudo fazia para que o jornal ficasse o melhor possível. Tenho certeza que há um luto em todos nós ao mesmo tempo. Sua presença nos dava a segurança do líder na redação.
O Décio Presser era co-editor do Tiburski. Numa primeira vaga ele me honrou com o título de seu co-editor (interino) por puro quixotismo. Foi condecoração simbólica pelos meus serviços prestados vindo do seu jeito de fazer as coisas. Co-editor ao seu lado, ao lado do editor pétreo. Mas sem alterações de proventos, nem cogitações sobre o caso o que era mesmo outro departamento.
Homem de natureza simples, sem doblez nas palavras, rígido muitas vezes zombava do mundo intelectual em que vivia. Adorava rir da vaidade dos vaidosos. Vivia deste mundo intelectual, mas sabia ser agudamente crítico com os vaidosos, basicamente quando comiam na sua mão. “São capazes de qualquer coisa para ter um texto publicado”, dizia rindo.
Nos últimos dias de redação (tempo de CODEC) com a troca de governo fui ficando meio desajeitado no cargo. Brigamos pela primeira vez verbalmente sobre o conteúdo de uma publicação. Lembro-me dele correndo em torno da minha mesa. Sabia que se cansaria rápido e eu ria enquanto fugia. O que teria lhe motivado tamanho ímpeto de cólera? Por anos quiz encontrá-lo para dialogar sobre o fato, coisa desimportante, excesso de trabalho. Qual artigo? Bloqueio total. O tempo muitas vezes não permite o perdão. Sei que ele pensava assim também.
Confessou sua perplexidade diante da minha energia mal compensada mediante escassos recursos para resistir vivo na capital do estado. “Não sei de onde o Vayá (apelido de cartunista) tira energia para continuar nessa vida de jornalista!". Pura verdade. Bati em retirada para o extremo sul do Brasil onde encontrei o ritmo que até hoje levo, sem jóias, mas com o brilho que a barragem do Capingui tem. Ficam as lágrimas como jóias nesse adeus em nome da simplicidade praticada apenas pela oportunidade de ter trabalhado ao seu lado na grande imprensa gaúcha. Nesse período em nome da liberdade de expressão a imprensa oficial serviu como honesto contraponto aos jornalões. Jornalões que ele criticava severamente, bradando seus títulos universitários quando surgia algum tema polêmico.
Por todos os demonios Tiburski, esperava receber notícias tuas pelo Radaelli. Notícias bravas, ferrenhas. Talvez notícias amenas, talvez literárias...
Dorme, amigo, dorme.
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