Notas Sobre a Beleza e a Fofoca.

O grande poeta Vinícius de Moraes um dia disse: “as feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental!”.

Referia-se ele somente a questões estéticas femininas, ou à beleza de uma forma geral?

Não importa, o fato é que tudo o que choca profundamente a alma, perfura o espírito, sangra, comove de verdade, não vira fofoca, não cai na mídia; ou é mal-visto, não visto ou logo se muda de “canal”.

Todos querem visitar uma criança recém-nascida, limpinha, cheirosinha e com os pormenores de uma flor desabrochando, como um dia foram; mas raros são os se interessam em visitar velhos decrépitos, em estágio terminal, crianças e homens doentes, mesmo que sejam seus entes, pais ou avós. Relutam sim, pois a natureza humana tenta, vejam bem, tenta afastar o desconhecido e nisso se enquadra a decrepitude, o horror do que não se quer ser, quando tal situação não absorveu sobremaneira o interlocutor, quando não há comunhão de situações. Crianças todos já fomos; velhos, porém, muitos ainda não...

Ao acaso, como sempre deixei minha vida “rolar”, botei um clipe de uma famosa música de Crosby, Stills, Nash & Young na internet, música linda, por sinal, porém contendo imagens chocantes e ao mesmo tempo comoventes sobre a guerra do Iraque, sendo que poucas pessoas o viram ou comentaram. Já, por outro lado, num blog de escritores, postei uma crônica com o título: “Crônica de um Derrotado”, e tive muitos acessos e comentários. Ou seja, a imagem do real, do desconhecido, choca mais do que a fofoca, a fantasia do que se queria...

A fofoca é algo frágil, impuro, quase pueril, infantil, lúdica, mesmo que em sua maioria tenha no fundo o cunho da crueldade humana em saber que o outro ou os outros são ou estão piores ou abaixo de você.

Se o outro porventura está acima, em melhores condições, não se tem muito interesse, o fuxico ameniza-se num tom pseudo-elogioso, para não dizer o odioso termo inveja.

Vejam bem! A fofoca nutre-se com a própria fraqueza e por querer um lenitivo para a própria incapacidade.

A fofoca, o fuxico, a badalação, o rumor, a balela, o diz-que-diz-que é o nome daquele ou daquela que se contorce por saber que existem pessoas que cometem os mesmos erros que ele, ou ela, ou algo equiparado; é alguém incapaz de perpetrar algo além e mais “produtivo” do que o ato de fofocar!

É aquele que se desvaloriza ao extremo, que vive na mais baixa e vil auto-estima, a ponto de ficar a espreitar pela fresta a festa que o outro, livre de amarras e preconceitos, faz!

A fofoca é o vazio de cultura, o vácuo, o zero à esquerda.

Todo “balangador(a) de beiço” provavelmente têm problemas sexuais, afetivos ou psicológicos, e buscam na vida alheia a solução para seus problemas. Deitam cabeça no travesseiro pensando no erro do alheio, que “ele”, talvez, não cometeria, e recrimina, fofoca, recrimina, discrimina, difama, até que, de tanto falar e falar e fuxicar e fofocar o fato fofocado pode acabar por entrar em confusão, dúvida e virar “verdade”, caso não se desvende que simplesmente tudo não passava da imaginação doentia de mais um desses fofoqueiros que a todo momento brotam nos bueiros.

Portanto, fofoqueiros de plantão, pessoas que sobrevivem do fuxico como potencial de auto-ajuda ou motivação, ou mesmo os vitimados por ela:

CAIAM NA REAL!

Vivam o real...

Eis que...

TODO MUNDO É IGUAL!

Se você vai bem, mal, ninguém, ninguém, absolutamente ninguém, com ou sem fofoca, poderá afetar a sua vida sem que você se dê conta ou permita isso dentro de seu subconsciente!

A fofoca é meramente imaginativa. Muitas vezes a criação doente dentro de uma mente igualmente doentia!

E toda beleza ou “feiúra” não passa da distorção da mente do poeta, que ilude o interlocutor, leitor ou telespectador a ser, sentir e enxergar apenas o que é escorreito, belo, perfeito e asceta!

Desta feita...

Não seja pateta!

Não fofoque!

E nem sempre siga a seta!

Não há ato de maior liberdade do que a criação artística, seja qual for...

Talvez esteja ouvindo o que o outro está pensando, mas não está vendo nem sentindo!

E, mesmo assim, imagem não é tudo!

Mas, por Deus!, não se sufoque!

Não se sufoque!

Não se sufoque...

*Adoro Vinícius, mas prefiro Drummond!

Savok Onaitsirk, 14.04.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 15/04/2011
Código do texto: T2910060
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