GAROTOS ESQUECIDOS

Somos menores desamparados, crianças sem esperanças, desprevenidos, pés no chão, mendigando uns mendrugos para sobrevivermos nessa escuridade. Somos frágeis e atuamos segundo a apreensão que nos consomem.

Nossa imagem perante sua visão é de bandoleiros, vadios, bárbaros, malignos, malfeitores, desocupados e delinquentes. Talvez, você esteja certo, somos tudo isso e muito mais. Mas não somos culpados, não temos débitos. Somos mal vistos. Somos vítimas da desordem, de um sistema manipulador que transforma o ser humano em objetos inúteis, que arranca a plenitude, o amor, a piedade dos corações e implanta neles a ambição, a ganância, a fúria, transformando os homens em gigantescos inescrupulosos e que faz com que cada um pense somente em si. Somos imolados pelos donos da força e do poder, insuficientes para entender que somos o retrato desta pátria, desta pátria que constitui numerosos famintos, mas que são vítimas do desperdício excessivo.

Somos bons, somos ruins, minúsculos, imperceptíveis, sem destinos, salteadores com razão. Não temos faltas, só queremos a sobrevivência, somos o cúmulo do pudor desta pátria desmemoriada. Somos ladrões e temos que furtar para comer, ter vida e não morrer, sentir as batidas do coração. Garotos esquecidos, sem pátria, garotos de rua, somos pobres e sem recursos, queremos espaço para viver. Somos violentos, a violência foi a única forma que encontramos para clamar-te, para despertar a sua atenção. Somos manchetes dos jornais nesta terra de orgia, não temos como sair da miséria sem a sua ajuda.

Somos protagonistas, principais personagens de uma peça dramática, uma história real, história que você desconhece e finge não enxergar esse espetáculo brutal, rude e insensível, mas ainda é pouco para lhe comover e fazer você perceber que somos estrangeiros no nosso próprio país. Você possui o título e a glória, mas não possui o conhecimento para compreender que somos o futuro desta nação e precisamos de ajuda para desenvolver um amanhã digno, uma nação justa.

Somos minúsculos diante de ti, somos simplesmente migalhas tão somente vulgares, somos a incultura do seu pensamento, somos sem história, sem lembranças, ignorados, flagelados, somos garotos de rua, somos garotos esquecidos e a culpa é somente sua.

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 14/04/2011
Código do texto: T2908550
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