Hoje teremos Curau e Sarau

Hoje teremos Curau e Sarau

Entre couves e abobrinhas ela plantou milho no pequeno quintal de sua casa. O milho cresceu viçoso. A cada dia, as espigas estavam maiores.

Como durante a semana ela se divide entre a função de mãe e o trabalho fora de casa junto a produtores rurais: a colheita seria feita no sábado.

O Sábado chegou.

Finalmente ela teria a satisfação de confirmar o valor de sua produção. Cantarolando, enquanto o filho menor corria a seu redor, ela colhia as espigas e as ia colocando no cesto.

Com o coração em festa, entrou em casa carregando o fruto de sua dedicação. E declarou cheia de entusiasmo e gratidão:

-VEJA COMO A TERRA É GENEROSA! Quarenta espigas das mais bonitas.

Sua satisfação era contagiante. E seu entusiasmo não parou por ai.

-Vou fazer um curau e cozinhar o restante das espigas. Comprei também pinhão. Participo a todos que vamos fazer um Sarau movido a Curau. Cada um que traga seu texto.

O convite pegou a todos de surpresa. Os olhares se cruzaram na dúvida quanto à aceitação de tal proposta. Entretanto, como não participar de um evento tão inusitado?

As crianças se empolgaram. Todas queriam participar. Até o de três anos teria que decorar um versinho. Na busca de um texto para ler e os devidos ensaios: preencheram as horas do sábado.

A dúvida eram os pais. Será que compareceriam e aceitariam a brincadeira?

Oito horas da noite todos reunidos. Televisão nem pensar. Musica instrumental, chorinho e MPB envolvia o ambiente.

Na mesa: milho cozido, pinhão e... Pão de queijo para os mais exigentes.

As crianças em alvoroço traziam seus textos com entusiasmo. Enquanto os adolescentes por quererem sair, sobre leve pressão, aceitavam participar.

E para minha surpresa, todos os pais estavam presentes; na expectativa de uma programação diferente.

A função começou com o pequenino de três anos, que com carinha de safado recitou seu versinho; com direito a gestos e coreografia. Em seu semblante, o sorriso maroto, ante aos aplausos recebidos, deixava claro sua satisfação.

A alegria deu continuidade às apresentações.

A principio, certa timidez envolvia os participantes, mas aos pouco, pais e filhos, um após outro, entre milhos e pinhões, iam ficando a vontade para ler seus versos ou textos.

Sem dúvida uma apresentação bem eclética, onde cada um dos presentes mostrou um pouco de si, através do texto escolhido.

Foram lidos: Bilac, Vinícius, Cecília Meireles, Cora Coralina, pensamento do filósofo Sêneca, texto de auto ajuda, trazido pelas adolescentes, e até trecho da autobiografia de Raul Seixas.

Para encerrar, como não podia deixar de ser, a idealizadora do Sarau... E do Curau: Leu o poema de Cora Coralina: “A Gleba me Transfigura”.

(...) Amo aterra de um velho amor consagrado.

Através de gerações de avós rústicos, encartados

nas minas e na terra latifundiária, sesmeiros.

A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra. (...)

Foram momentos tão agradáveis que deixaram em cada um o gostinho de quero mais.

Já está programado um próximo Sarau para o dia das mães. E quem sabe? Um por mês... Mesmo sem curau

Quem quiser pode vir. Estão todos convidados a sentir de perto como é simples estar feliz!

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 10/04/2011
Reeditado em 12/04/2011
Código do texto: T2900590