Não há como negar as dificuldades existentes para que procura viver exclusivamente de poesia. Muitos, tentando não se dar contar, acabam esquecendo o grande valor que os textos poéticos possuem e sendo possível viver nesta área através de livros, sites, oficinas literárias e grandes eventos.
Há que não perceba os benefícios que a poesia pode ceder - como a diminuição do analfabetismo funcional, o melhor uso da língua e o aumento de conhecimento, por exemplo -, além de não tentar compreender como ocorre o trabalho de pessoas ligadas à área, apesar de muitos enfrentarem problemas sem dimensão para chegar em sua posição atual, como os jovens do grupo Geração Delírios que vendem - ou pelo menos tentam vender - seus poemas na entrada da Biblioteca Nacional e se sustentarem com o pouco que ganham. Mas, há quem já tenha passado por esse tipo de aperto e conseguido alcançar uma situação melhor, como poeta cearense de 65 anos, Mano Melo que já tomou parte da “geração mimeógrafo”, do grupo Ver o Verso, juntamente com Claufe Rodrigues e Pedro Bial, e já tendo publicado oito livros.
A formação de quem quer trabalhar com poesia é muito variável, tendo em vista que, nos dias atuais, há certo receio em trabalhar nesta área em virtude das constantes mudanças no mercado de trabalho na área. A exemplo disso, um fato triste ocorreu com a editora Cosac Naify em 2016 após fechar as portas em virtude da descaracterização da missão da empresa para poder suprir as necessidades e obrigações financeiras.
Em virtude disso, a literatura vive em virtude de ideologias que sempre influenciam a sua formação e produção. Constata-se isso, por exemplo, com critérios bem elaborados e discutidos por críticos deste tema. O individual e o coletivo, como diria Maurice Halbwachs, se coadunam em determinado ponto pois uma reflexão sobre algo não é feita sozinha, pois o pensamento pode ir de um grupo a outro, podendo haver desapego de um grupo em relação a outro.
Percebe-se, nesse sentido, que o pensamento individual e o social se diferenciam em certo ponto, mas podem aproximar-se em virtude de certas semelhanças e pontos em comum. Há, assim, que dizer que, na literatura, um grupo defende as mesmas ideias de produção literária e artísticas, contribuindo com a formação de um movimento literário, assim como ocorreu em toda a literatura brasileira desde a sua existência, a partir do Romantismo, primeiro movimento literário brasileiro propriamente dito.
A poesia, como qualquer outra manifestação cultural, tem seu valor que deve ser respeitado, pois retrata nada mais que a imaginação e a criatividade humana, pois a linguagem poética retrata a mensagem, pois, como afirma Jakobson, a linguagem poética é voltada para si mesma e é diferente da linguagem utilizada diariamente. Assim, é notório que haja uma diferença ou algo a mais no valor poético por trazer-nos algo a mais de conhecimento. A poesia, sim, tem seu valor, embora seja incomunicável em algumas situações ou nos comunique de maneiras diferentes, e sua contribuição para a sociedade, como o desenvolvimento infantil no âmbito escolar.
Deve-se argumentar o que pode atrair novos escritores para nobre arte da literatura, haja vista as enormes dificuldades que desanimam qualquer um, fato que pode ocorrer em qualquer outra profissão. No entanto, o valor poético se encontra em qualquer setor de nossas vidas e nos ajuda a refletir sobre o algo a mais que a poesia cedo ao objeto descrito e sua essência, como defende Aristóteles. Todo esse conjunto de fatos me faz lembrar – nos faz lembrar (eu espero) – de forma crítica a situação cultural brasileira e me leva a concordar com os versos do livro “Rosas do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade: “A poesia é incomunicável,/Fique quieto no seu canto./Não ame”.
Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 04/04/2011
Reeditado em 24/07/2018
Código do texto: T2888593
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