A vida me fez assim

A vida me fez assim e você não pode nem tem o direito de me querer diferente. É preciso que haja entendimento e não me venha com esse jogo mole de dizer que sou errado, não sou normal ou que talvez seja uma aberração da natureza.

Por que ao invés de tantos julgamentos não procura perceber que a ideia não surgiu para ser rocha, mas para construir pontes entre as pessoas, não essas pontes que separam, mas sim as pontes que encurtam as distâncias, as que servem com atalhos porque a necessidade que temos de chegar um no outro é urgente.

Posso até não ser boa em articular as palavras, ou mesmo em dialogar com você. Essas ações soam em mim como algo distante. Desde logo aprendi a construir um mundo só meu. Nele eu viajo, me acho e encontro tudo que preciso. A minha voz é interna, como terna é a maneira que tenho de perceber o mundo ao meu redor...

As vezes busco uma outra linguagem para dizer da minha existência e com ela mordo, grito, me jogo, esperneio até que o amor fala mais alto e me enlaça, me envolve e move em mim uma sensação que não sei dizer, só sei que me acalmo, apazigua em mim a perturbação que existia e dentro de minhas limitações não soube dizer...

Veja, sou de carne e osso e além dessa aparência existe algo que suplica a ti a necessidade de aprender a viver com a cultura da diversidade. Não, não precisa me olhar com esse olhar de caridade, piedade, proteção. Não é disse que eu preciso, não, apenas me olho como sou e aprende a respeitar os diferentes.

Já pensou se o os seres humanos ao invés de serem divididos de forma biológica em cabeça, tronco e membro fossem divididos em: pensamento/sensibilidade no canto da cabeça, afetividade/emoção no canto do tronco, solidariedade, respeito, atitude e cidadania no lugar de apenas membros superiores e inferiores.

Todos os sentidos localizados na cabeça passariam ter outros comandos de maior desejo em perceber o outro. No tronco, onde reside o coração e o útero, haveria mais espaço para que as coisas pudessem ser fecundadas e geradas com maior possibilidade de percepção do outro com maior alteridade. E nos membros, os canais pelos quais pudéssemos construir elos mais significativos...

Espere, sou cativo, não desista de mim, nem se assuste com os meus movimentos repetitivos ou com minhas idiossincrasias... Sou capaz de observar o vento, o tempo e tudo aquilo que chama a minha atenção... Já pensou você sendo fruto dessa possibilidade que tenho de perceber e eu te perceber e você me perceber melhor?

Talvez se tudo fosse igual, se todos fossem iguais, viveríamos todos no marasmo, numa situação de constante letargia e a vida não teria tantas possibilidades de... Talvez se você desse uma chance de perceber o diferente como alguém que pode fazer a diferença acontecer em sua vida, essa vida ganhasse uma nova dimensão...

Espere, calma, você não é obrigado a me aceitar, não. O apelo que faço é que se sinta convidado a simplesmente respeitar os diferentes e nesse exercício de respeito, seu mundo possa ser florido com as flores da humildade e se perceba como eu me percebo capaz de mudar a humanidade.

Agora nesse momento eu me isolo e me gosto e percebo uma confusão de sons ao mesmo tempo dentro de mim e sei que logo ali mais adiante tem um espaço cheinho de chocolates e sorvetes que eu posso ir, é só atravessar a rua sem a menor noção de perigo do que possa vir ao meu encontro e me acertar de cheio... Logo ali onde você está disperso, perdido em compras, com uma vontade imensa de chegar em casa e eu te olho e você não me ver e dentro do meu silêncio reflito a celebre frase da canção que toca no ar... “A vida me fez assim...”