Poxoréu: O vigésimo quarto ano upenino
O Vigésimo Quarto Ano Upenino
Izaias Resplandes*
Quem diria! Quem diria que daquela reunião singela realizada no dia 31 de março de 1988 na Casa da Cultura de Poxoréu pudesse sair alguma decisão duradoura! Poucos acreditariam. Isso não passará da criação de mais uma Organização Não Governamental para conseguir dinheiro público – alguns diriam. Fogo de palha! É mais alguém querendo aparecer – diriam outros. E poderia ter sido assim. Quantas não foram as instituições criadas neste Município e que desapareceram sem deixar qualquer pegada pelo chão de Poxoréu! A tal UPE – União Poxorense de Escritores poderia seguir a mesma trilha. Mas não seguiu. E por que será que não seguiu? Sempre que faço essa pergunta insisto em dizer que a UPE tem resistido ao tempo porque ela tem como objetivos principais defender e disseminar as idéias e os valores artísticos e culturais do povo poxoreano.
Segundo Platão, somente aquilo que existe no mundo das idéias é perfeito e, portanto subsiste. As demais coisas que possam existir nos outros mundos não passariam de cópias imperfeitas das idéias perfeitas e, portanto, estariam fadadas a desaparecer. Se tivéssemos pensado em fundar um Museu, uma Biblioteca, uma Banda de Música ou qualquer outra coisa desse gênero, provavelmente nossa criação já teria morrido como aconteceu com a Casa de Cultura de Poxoréu – que deveria promover a cultura neste Município e que acabou; a Casa da Música, fundada por nosso eterno confrade Joaquim Nunes Rocha, o “Rochinha” e que também desapareceu; a Banda de Música que tocou no primeiro evento promovido pela UPE na Praça da Liberdade no dia 13 de maio de 1988 e que deixou de existir...
Ah, meus irmãos! Nem gosto de ficar lembrando dessas coisas que não temos mais; que tivemos e perdemos porque não fomos suficientemente capazes para manter. Essas lembranças me deixam muito triste. Então eu prefiro lembrar da UPE que veio e permaneceu. Prefiro lembrar dos nossos irmãos upeninos Manoel Fraga Filho, Aquilino Sousa Silva, Delza Fernandes Zambonini, Joaquim Nunes Rocha, Gilbert Araújo Lemos, Joaquim Moreira e Jurandir da Cruz Xavier que aqui estiveram e aqui ainda continuam conosco cantando e decantando as raízes e os sentimentos desta terra poxoreana, apesar de também estarem fazendo os seus discursos na Assembléia Geral da Upe Celestial.
Costumo dizer que uma pessoa está morta quando ela se torna inútil para os seres vivos; quando não tem mais nada para acrescentar; quando já deu o que tinha de dar; quando sai da condição de produtor de bens para um mero consumidor dos bens já produzidos. Desse modo, ainda que o inútil esteja respirando, se for apenas um problema, uma pedra de tropeço, uma dificuldade para os demais, um fardo pesado para os outros ou uma parasita social, então tal pessoa com certeza já morreu. Falta apenas desocupar o espaço. Aquele que ocupa um lugar da Terra tem o dever social de pelo menos inspirar os sentimentos bons ou maus de seus pares. É assim que muitos morrem, mas não morrem porque são eternos motivos para decantar as saudades, enquanto outros, ainda que "vivos", há muito tempo já estão mortos.
O Upenino não morre. A sua alma é uma idéia perfeita e as idéias perfeitas são eternas. Como a nossa própria UPE, nós upeninos também somos andarilhos a peregrinar de um lugar para outro, de uma experiência para outra, de um verso para outro. Andamos de verso em verso e de prosa em prosa. Versejamos e proseamos o sentimento da natureza que se encarna em todos os seres e criaturas. Qualquer tema é motivo para um verso e uma prosa. Eis porque somos eternos, posto que sempre haverá uma palavra escrita, falada ou pensada. A palavra é a essência da nossa imortalidade. Ela é a alma do escritor.
A UPE não tem sede própria. É uma andarilha que vai de prédio em prédio, de casa em casa e de rua em rua. A sede da UPE é a cidade de Poxoréu. Toda casa poxoreana é uma casa upenina. Onde houver um rádio, aí estará presente a UPE através do Programa Momento de Arte e Cultura, transmitido pela Rádio Sul Mato-grossense. E quando por aqui se pensar em poesias, certamente será muito difícil não pensar nos nossos upeninos. A UPE é poesia.
Como é gratificante acompanhar e ser prestigiado nos Recitais do SESC que, todos os anos, no mês de dezembro, desfraldam a bandeira upenina em um festival de declamação das poesias de nossos escritores locais. Que maravilha tem sido apresentar os Recitais Upeninos de Outubro no Salão Dom José Selva, no Externato São José, lotado de espectadores que ali aglomeram para apreciar o talento e a verve upenina. A UPE é esse sentimento de amor pela poesia da terra poxoreana. Sim, nós temos poesia em Poxoréu!
A UPE está presente nos livros dos upeninos, nas revistas “A Upenina”, nos jornais “O Upenino” e tantas outras publicações. E agora, depois que inventaram a internet, a UPE também está lá, divulgando e atuando “em defesa da arte e da cultura”. Não temos dúvidas de que vamos continuar existindo mesmo depois que todos os atuais upeninos se transferirem para a UPE do Céu. Porque a UPE da Terra é uma idéia e as idéias são perfeições que existem para sempre, sejam na Terra, sejam no Céu. É com esse espírito que iniciamos o Vigésimo Quarto Ano Upenino, desejando muita inspiração a todos os nossos companheiros dessa arte.
Viva a Idéia! Viva a Arte e a Cultura! Viva a UPE!