QUANTO VALE UMA INSPIRAÇÃO?...
“Inspiração não é banana/Que plantando dá/Quá, quá, quá.quá!...”, já dizia a musiquinha de Paquito, no carnaval carioca de 1956.
Pois é, amigos, tem gente que confunde “inspiração” com “aspiração”, ou “transpiração”, sacam? Aspiração é vontade, desejo, transpiração é suor, é esforço despendido, mas “inspiração”, minha gente, é um sentimento muito valioso que pode conduzir o felizardo ás trilhas do sucesso. Mormente no campo das atividades artísticas ou intelectuais. E, vamos combinar, a marchinha carnavalesca disse-o bem, “inspiração não é banana que plantando dá”. Às vezes não adianta adubar e regar, pois ela não vem e pronto!
Sou amigo velho do Jadir Ambrósio, famoso compositor e músico mineiro, autor do sucesso nacional chamado “BURACO DE TATU” (quem não conhece?), um sujeito fantástico, extraordinário. Homem ligado ao rádio (foi ele o descobridor de CLARA NUNES, levando-a dos teares da fábrica de tecidos "Renascença Industrial" para o samba de Belô e de todo o Brasil. Sim, ele é também um caçador de talentos), ao samba de raiz, ao carnaval e às antigas escolas de samba de Belo Horizonte, Jadir Ambrósio é mais do que um excelente papo, é criativo, atuante e sempre inserido no contexto. Aos 80 anos está sempre criando e tira da sua cartola letras e músicas maravilhosas, como a que ele me cantarolou dia desses, falando de um Preto Velho que vai jogar rosas brancas ao mar pra sua Mamãe Iemanjá! Chama-se “Lágrimas de Preto Velho”, uma verdadeira prece umbandista.
Pois bem, durante um bate-papo desses, perguntei ao Jadir qual a música de sua autoria que mais lhe rendia direitos autorais. Antes que ele respondesse, sapequei, crente que estava abafando:-
“- Com certeza é “BURACO DE TATU”, não, mestre?” – e ele, com aquele olhar manso, tranqüilo, o sorriso emoldurado pelos dentes brancos, perfeitos:-
“- Não, meu amigo, a que mais me paga direitos autorais é a do HINO DO CRUZEIRO ESPORTE CLUBE, tá sabendo?” – não, eu não sabia, mas agora sei. Quem diria? E ele na sua, flegmático como um inglês, complementou:-
“- Vinha eu descendo a Rua da Bahia, numa manhã de sol, lá pelas dez horas, quando me veio de estalo à cabeça uma idéia:- uai, cadê o “Hino do Cruzeiro”? O Atlético tem seu hino (“Nós somos campões do gelo” ...), mas o Cruzeiro ainda não tem o seu hino. Vou bolar um agora mesmo! E já comecei ali mesmo, descendo a rua, cantarolando os versos que brotavam da minha cabeça e mentalizando a música que nascia do meu coração, eu, cruzeirense apaixonado como você sabe:- “Existe um grande clube na cidade/Que mora dentro do meu coração/Eu ando cheio de vaidade/Pois na realidade ele é um grande campeão/Nos gramados de Minas Gerais/Temos páginas heróicas, imortais/Cruzeiro, Cruzeiro querido/Tão combatido jamais vencido” ...
“- Puxa, Jadir, mas brotou assim, de repente? ...” – interroguei, admirado.
“- Velho, eu não tenho hora certa pra compor música, sabe? Quando vem a inspiração, pego logo um lápis, um papel e escrevo no ato. Foi o que aconteceu:- parei no Bar Trianon, pedi um cafezinho e no balcão com tampa de mármore branco escrevi a letra num guardanapo, pois a música já estava prontinha na minha cabeça. Saí de lá direto para o Barro Preto e me dirigi à sede do Cruzeiro, onde achei o Presidente Felício Brandi, o qual me recebeu com aquela simpatia de sempre. Falei da idéia do hino, mostrei a letra no papel escrito à lápis, cantarolei junto com a melodia e o Presidente deu um murro na mesa, dizendo:-
“- Jadir, é isso aí! Vamos gravar já, pode ser? ...”
“- Mas é claro, Presidente! Estou às suas ordens.”
No mesmo dia eles foram à uma gravadora da cidade e daí nasceu o primeiro disco, um vinil de 78 RPM, com o belo hino em louvor ao clube estrelado, a música que mais rende direitos autorais ao seu autor e a que engorda todo mês a conta bancária do extraordinário compositor mineiro Jadir Ambrósio, ao qual rendo aqui as minhas homenagens.
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B.Hte., 25/03/11