QUANDO QUEIMAM AS TELEVISÕES

Ainda lembro na aurora da minha vida, da minha infância querida que o tempo deixou para trás, e de minhas televisões. Não foram uma, duas ou três, mas também não foram muitas mais que quatro...é talvez seja isso, quatro televisões foi o que tive. O que não interessa nada neste momento, e sim o que acontecia quando morriam... Quero dizer, queimavam.

Em minha casa como em milhares de residências, rio-grandenses, brasileiras e porque não mundiais, os televisores foram sempre um familiar a mais, um familiar falante, opinativo e extremamente chato por sinal. Mas muito querido por todos nós afinal não são todas as famílias que possuem um parente com tanta imposição informativa, “alienativa” e entonações de voz. Salvo as exceções onde núcleos familiares contenham algum jornalista, publicitário e/ou um relações públicas.

- Meu Deus! Que papelzinho essa mulher tá fazendo. Só em novela mesmo, por isso que eu não gosto de assistir essas coisas!

- Mas homem, tu assisti todos os trechos de todos os capítulos de todas as novelas que passam neste canal, imagine se tu gostasses.

E minha mãe estava certa, meu pai assistia às novelas, o que contem certa razão já que não se pode opinar sobre algo sem se ter conhecimento do assunto, mas ele assistia muito para quem dizia não gostar.

O mundo caminhava as mil maravilhas, ainda com suas drogas, violência, mortes, mas também com seus reality shows e imagens bonitas ao fim do Jornal Nacional. Até que aconteceu. Inevitável, evitável? Não sei, só sei que foi assim:

- Elton! Vem aqui Elton! Essa TV tá queimada?!

- Não sei, eu cheguei agora e tentei ligar ela, mas nada, nenhum sinal, pergunta prá Joyce ou pro Márcio (meus possíveis irmãos até que o teste de parentesco que eu fiz pela internet apresente o resultado), eles ficaram o dia inteiro em casa, eles devem saber.

- Eaeh Joyce?!

- Eu cheguei da aula já tava queimada.

- Márcio?!

- Ããã, eu liguei e... Sei lá. Apareceram umas coisas e sei lá, deu um barulho estranho, tentei mudar de canal e apagou.

- Márcio tu queimou a televisão?!

- Não mãe! Quero dizer, sei lá!

Então ao fim de tarde meu pai chegou, minha mãe lhe contou o ocorrido e ele passou a olhar meu irmão com cara de reprovação, justo já que ele foi o último a ter contato com a vítima e com isso era o principal suspeito além de dar respostas evasivas tipo... sei lá.

Aquela noite sem a presença da “ Philips 29 polegadas” tivemos longas conversas e com ela adquirimos um grande conhecimento pessoal e uma importante evolução cultural, uma importante, triste, longa e chata evolução cultural.

Paxeco
Enviado por Paxeco em 25/03/2011
Reeditado em 10/02/2014
Código do texto: T2870471
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