Anelise on-line

Quando Anelise se separou do João sentia-se muita solitária.

Tinha um PC fazia anos, mas nunca havia se conectado à Internet para entrar em salas de bate-papo. Delas tinha péssimo conceito.

Numa noite de sábado estava sem ter o que fazer e resolveu acessar a Net. Entrou na primeira sala que encontrou e ficou observando as letras desconexas em sua tela. Pessoas tentando conversar, conteúdo zero, português truncado em frases soltas.

Minimizou a tela e foi jogar paciência.

De repente surge uma mensagem. Alguém perguntando se queria tc. O que significava tc , meu Deus?, perguntou a si mesma. Digitou que se chamava Anelise e que estava falando de Recife.

Achou o homem do outro lado da tela interessante e iniciou uma conversa que seguiu madrugada afora com a promessa , dele, de que no dia seguinte voltariam a tc. Ela já sabia que tc significava ter contato.

Usaram suas respectivas teclas por várias semanas e já se sentindo muito próximos trocaram telefones. Anelise telefonava várias vezes descobrindo emoções até então desconhecidas.

Era alimentada por ele com palavras doces e gentis.

Aprendeu alguns pontos sobre informática com o não mais estranho.

Anelise era por demais atenciosa com as pessoas que lhe eram queridas e resolveu retribuir a atenção dele com um presente.

Em um domingo acessou a Net e foi à caça do endereço dele para que pudesse enviar a encomenda. Conseguiu o que queria. Resolveu confirmar com o amigo se o endereço estava correto e telefonou, obtendo dele uma afirmativa.

Endereço confirmado foi escolher o presente pela Internet mesmo. Seria mais prático e rápido. Pensava que ele iria adorar a surpresa.

Encomendou flores e bombons. Arranjo delicado. Pedido feito e Anelise sentia-se feliz.

Na manhã seguinte resolveu telefonar para avisar ao amigo sobre a encomenda que lhe seria entregue.

Antes mesmo de lhe falar ouviu o que não esperava. O amigo, naquele instante , tornava-se novamente um estranho que lhe dizia friamente que não poderiam mais ter contato. A justificativa dele era a de que tinha encontrado uma pessoa não virtual e que o relacionamento com a Anelise poderia prejudicá-lo.

A única coisa que ela conseguiu dizer foi que ele a desculpasse pelo presente enviado e que o mesmo fosse literalmente jogado no lixo e desligou.

Anelise sentiu-se arrasada. Ligou para a amiga Júlia e desabafou. Júlia ficou indignada e queria o telefone do infeliz para exigir a devolução do presente. De pelo menos os bombons.

Claro que a Anelise não forneceu o número, mas deu muitas risadas e sentiu-se aliviada.

Anelise recebeu um e-mail dele agradecendo o presente e dizendo que ela tinha sido uma pessoa muito especial . Anelise deletou o e-mail e virou a página.

Prometeu à amiga que jamais enviaria qualquer presente aos desconhecidos que por acaso conhecesse na Net.

E Anelise pensou seriamente em deixar o PC por um tempo em off-line para não correr o risco de se magoar novamente.

A lição que tirou do episódio foi a de que precisava ser mais cuidadosa e menos generosa, pois um coração partido dói muito mais que uma caixa de bombons e flores enviadas para um desconhecido e que gostaria que realmente tivessem sido atiradas no lixo junto com a sua insensatez.

Rita Venâncio.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 17/03/2011
Código do texto: T2853646
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