Só Porque Você Perguntou!


Sou voluntária da ProAnima, sociedade de proteção animal em Brasília e, vez por outra trato do assunto em meus textos. Muita gente que me lê se emociona com os relatos, apóia meu trabalho, admira-se pelo meu amor aos bichos. Porém, ainda há quem questione que se perca tanta energia, tempo e dinheiro em prol dos ditos seres irracionais, quando há tantas pessoas, seres humanos como eu e você, precisando também de quem por elas faça.
Poderia argumentar simplesmente dizendo que faço por elas também. Faço menos, é verdade, até porque por seres humanos há muito mais gente fazendo. Incluindo o governo. Pensa que é exagero? Vamos aos fatos: um ser humano atropelado não ficaria dois dias jogado em frente a uma ONG de nome Centro de Reabilitação Deus Proverá, esperando pela provisão divina. Seria imediatamente conduzido a um hospital público e, ainda que precariamente, já que vivemos tempos negros de falência dos serviços do Estado, seria atendido. A propósito, não há hospitais veterinários públicos.
Ninguém se julga no direito de propor a eutanásia de um menino portador de esquizofrenia ou autismo, por mais incapacitante que seja o seu quadro, mas há criadores que não hesitariam em tirar a vida de um filhote em desacordo com o padrão da raça.
Se uma mãe em desespero ou depressão pós parto abandona seu bebê no quintal do vizinho, isso vira notícia de jornal, o salvador da criança posa de herói nacional e imediatamente, começam a surgir pessoas interessadas em adotá-la.
Por outro lado, quem, ao deparar-se com uma caixa cheia de filhotes de cães ou gatos, irá lembrar-se que ali dentro há seres vivos? Aqueles mais sensíveis talvez recolham a caixa a um lugar mais protegido, deixem alguma água e comida. Uns poucos irão levá-los para sua casa e iniciar a busca por protetores a quem repassar o “problema” e uma ínfima minoria irá cuidar deles, vaciná-los, castrá-los e procurar lares responsáveis que os adotem.
Numa tragédia como a que se abateu sobre o Rio de Janeiro neste início de 2011, o País inteiro se uniu em prol das vítimas, resgatando, medicando, protegendo e consolando. Nos olhos angustiados de quem perdeu tudo ou alguém, só se vê perplexidade e dor. Impossível seguir indiferente a tanto sofrimento e cada um faz o que pode para ajudar. Pois há quem critique a ação de grupos de proteção que se mobilizaram no amparo de animais igualmente atingidos pela situação catastrófica. Afirmam que “com tanta criança que resultou órfã após a desgraça, é inacreditável que haja alguém preocupado em conseguir lares para os cães abandonados na região”. Convenhamos!! É o mais torto dos raciocínios! As crianças, assim como os adultos, foram recolhidas a abrigos, estão sendo alimentadas, aquecidas, serão tratadas, triadas, devolvidas às suas famílias, se ainda houver alguma, ou conduzidas para instituições adequadas onde poderão ser adotadas conforme a lei. Não se pode fazer uma Feira de Adoção de meninos e meninas sobreviventes! Quanto aos bichos, o certo seria deixá-los morrer apenas porque há seres humanos sofrendo?
Cada um faz o que pode, como pode e para aqueles necessitados que mais os motivem a agir. Nunca vi ninguém questionar a UNICEF dizendo que seu trabalho é inválido porque não atua também em prol dos idosos. Ninguém iria criticar um professor voluntário que se dedique à alfabetização de adultos, por ele não fazer o mesmo pelos menores infratores. Se é possível compreender que mesmo entre os humanos é necessário ter foco, minha resposta para você que tem dúvidas sobre meus porquês ao fazer mais pelos bichos do que pelas gentes é simples. É porque você perguntou. É porque você ainda vê distinção entre uma vida e outra, entre uma dor e outra. É porque você tenta me colocar num dilema de Sofia que não existe. Eu não estou deixando de salvar a vida de um ser humano ao salvar a de um cão. Eu estou salvando cães e sei que há muitos outros agindo pelos seres humanos. E, apenas para tranqüiliza-lo, se um dia este dilema se apresentar real para mim, é pelo bípede de teleencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor que voltarei minhas energias.
Penso que, ao invés de criticar quem está fazendo, o certo é mesmo arregaçar as próprias mangas e fazer também. Fazer por aqueles que lhe parecem precisar mais, fazer pelos idosos, pelas crianças, pelos detentos ou pelos animais. Mas fazer. E deixar para falar só quando alguém vier criticar o que você está fazendo.

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Na foto, Joly, resgatada na porta do Centro de Reabilitação Deus Proverá, em Planaltina/DF.

Conheça algumas instituições de proteção animal:

http://www.proanima.org.br
http://www.wspabrasil.org/
http://www.shb.org.br/
http://augustoabrigo.blogspot.com/
http://peloproximo.blogspot.com/
http://www.suipa.org.br/
http://www.univida.org.br/
http://www.estimacao.org.br/
http://www.iris.org.br/ (este não é de proteção animal, mas também é um lindo trabalho voluntário que envolve animais: a formação de cães guias).

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